Com a crise fiscal, estoque de empregos no setor da construção pesada deve regredir a patamares de 2007

BR-101/Divulgação DNIT

Se em 2017, os investimentos em infraestrutura atingiram o seu ponto mais baixo das últimas cinco décadas (1,37% do PIB), as perspectivas para este ano também não são nada animadoras. Fortemente dependente dos investimentos públicos, o estoque de empregos no setor da construção pesada, por exemplo, deve regredir aos patamares dos anos 2007.

De uma participação de 5,4% no PIB nacional em 2013, quando atraiu o correspondente a R$ 352 bilhões (valores da época), segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção (Sinicon), o setor da construção deve encerrar o ano, conforme estimativas baseadas nos investimentos previstos pelo governo federal, respondendo por menos de 4,5% do PIB, dos quais a construção pesada responde por 40%.

O Brasil sofreu uma redução de 3,43 milhões de postos formais de trabalho entre fevereiro de 2015 e fevereiro de 2018. Destes, aproximadamente 1 milhão de postos (28,5%) foram perdidos na construção em geral (pesada + civil). Somente na construção pesada perderam-se 326 mil postos nesse período, ou seja, 9,5% do total das perdas do país.  Entre fevereiro de 15 e fevereiro de 2018,  enquanto a construção civil teve uma queda de 32,7%, a  construção pesada regrediu 33,8%, segundo dados da Brasinfra, Sinicon e Sinicesp.  “Sem investimentos, o custo logístico brasileiro continuará a ser um dos maiores do mundo,   o que reduz o  potencial de crescimento econômico e impacta a competitividade nacional”, afirma o Sinicon.

Custo logístico

Atualmente, de acordo com estimativa de entidades do setor, com 12,7%, o custo logístico do Brasil é um dos mais altos do mundo. Para equiparar-se ao Canadá, onde esse mesmo custo corresponde a 9%, o Brasil reduziria seus custos em cerca de R$ 222 bilhões (dados de 2015).

De acordo com José Alberto Pereira Ribeiro, presidente da Associação Nacional das Empresas de Obras Rodoviárias (Aneor), de um total de cerca de 300 empresas, o setor detém hoje menos de 130, das quais apenas 20% estão produzindo. As demais fazem parte de um contingente que inclui empresas que operam apenas na base da sobrevivência e aquelas em recuperação judicial.

“O ano deve fechar com cerca de R$ 6 bilhões em investimentos do Dnit (Departamento da Nacional de Infraestrutura de Transportes), quando seria necessário pelo menos o dobro desse valor para a restauração e conservação de rodovias”, ressalta Ribeiro.

Desemprego no RS

No Rio Grande do Sul, de um total de cerca de 80 empresas, 16 estão em recuperação judicial e cinco optaram para outro ramo de atividade.  De um quadro de 25 mil trabalhadores com emprego formal, no período antes da crise, hoje o setor detém menos de 6 mil, segundo Ricardo Portella, presidente do Sindicato da Indústria da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem (Sicepot-RS).

Setor privado

De acordo com Claúdio Frischtak, da Inter B Consultoria (RJ), ainda que os investimentos públicos permaneçam necessários, o envolvimento do setor privado se tornou imprescindível, não somente por conta da crise fiscal que assola todas as instâncias de governo. Razão ainda mais importante é o filtro que o setor privado estabelece quanto à qualidade dos projetos, a eficiência na execução e os serviços resultantes. “No curto e médio prazo, é essencial melhorar a qualidade do planejamento; garantir a autonomia decisória e financeira das Agências reguladoras; e trazer o mercado de capitais e os bancos privados para financiar o setor”, assinala.

 

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