Empresas de navegação apoiam a privatização da dragagem mas com ressalvas

A ideia elaborada por um grupo de lideranças empresariais gaúchas, de privatizar o serviço de dragagem nas hidrovias do Rio Grande do Sul, ganhou a simpatia de empresários do setor de navegação. Há, de fato, o consenso de que alguma atitude precisa ser feita para oferecer condições permanentes de navegabilidade para as embarcações. O maior obstáculo é o modelo proposto, de contratação de uma empresa privada, via licitação feita pelo governo estadual, a qual seria remunerada mediante cobrança de um pedágio.

“Torço para que dê certo”, deseja o presidente do Conselho de Administração da Trevisa, Fernando Becker, um dos mais experientes empresários do setor da navegação. Todavia, chama a atenção para um aspecto: “As empresas de navegação já pagam uma taxa para este fim. Antigamente (até abril de 2017) era para a Superintendência de Portos e Hidrovias, agora é para a Superintendência do Porto de Rio Grande, que se sabe, é superavitário. Se transferir a dragagem para a iniciativa privada, alguém terá que pagar a conta. E quem será?”, pergunta.

Custo será pago pelo agricultor

Segundo ele, ao absorver este custo, as empresas de navegação terão que naturalmente passar esta despesa à frente elevando o preço do frete. Ao analisar os reflexos dessa alta sobre a cadeia, o empresário aponta: “Sabe quem realmente pagará este pedágio? O agricultor. Empresas que adquirem a soja vão querer pagar uma fração menor para ele”, comenta. “A preocupação do (Carlos) Sperotto sempre foi o de diminuir os custos para o agricultor”, lembra, se referindo ao ex-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), falecido em dezembro passado.

Frank Woodhead, diretor da Navegação Taquara, da Ctil Logística e vice-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga e Logística do Rio Grande do Sul (Setcergs), concorda com o movimento de privatização da dragagem “desde que seja feito um contrato bem-feito, transparente, e que especifique bem as obrigações de manutenção e até de aumento do calado”, sentencia. E com mais um detalhe: “Deixa-se de pagar a taxa que hoje é recolhida pelo estado”.

Pedágio sobre as águas

Não muito tempo atrás, lembra o empresário, as empresas que operam no rio Gravataí se cotizaram para arrecadar recursos suficientes para a extinta SPH fazer o trabalho de dragagem no local. “Foi feito, mas à meia boca”, diz Frank, argumentando que quando o Estado não consegue fazer a sua parte surgem propostas como a atual, de privatização dos serviços de dragagem. “O que não pode é deixar as coisas como estão”, ressalta.

O presidente do Conselho de Administração da Trevisa, Fernando Becker, levanta uma outra questão de natureza prática. Admitindo-se o eventual acolhimento da proposta, como seria feita a cobrança. Do ponto de vista físico, o empresário conta que o modelo rodoviário possui uma estrutura própria, com cancela. “E sobre as águas, como seria? Em qual ponto das bacias hidrográficas ficaria localizado o pedágio”, deixa em aberto.

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