Leilão A-6 deve consolidar concentração de eólicas no Nordeste em detrimento de projetos de geração perto da carga

Guilherme Sari, presidente do Sindicato da Indústria de Energia Eólica do Rio Grande do Sul (Sindieólica-RS), acredita que no leilão de energia nova A-6 , previsto para esta sexta-feira, dificilmente algum dos 99 projetos de energia eólica de empresas locais, que disputarão o certame, poderá sair-se vencedor devido ao “formato extremamente competitivo” adotado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Sari argumenta que os grandes players com maiores facilidades de financiamento irão decidir para onde devem ser instalados os novos parques eólicos, seja no Piauí, Bahia, ou outro estado do Norte/Nordeste. “É muito mais do que o potencial de ventos de cada estado: é a empresa que está por trás de cada projeto, do fundo de investimento, que irá decidir. Isso porque os preços estabelecidos estão muito baixos, quase ao nível de grandes hidrelétricas. Desse jeito, ficará bastante complexo para os projetos locais”.

“A tendência é no sentido de uma mudança de mercado, não que deixem de existir os leilões regulados. Mas com outro formato, como dos leilões regionais. Atrairia um número maior de players para esses embates e beneficiaria a todos, como o próprio processo e preços factíveis”.

Concentração de eólicas

Ricardo Pigatto, empresário do setor, acredita que o leilão de amanhã, mesmo com a baixa demanda esperada, será importante para que sejam avaliados os critérios do poder concedente na distribuição das cotas de cada fonte. Além disso, vai ficar demonstrado a concentração de eólicas no Nordeste em detrimento aos conceitos de geração perto da carga.

A partir desses resultados, Pigatto espera que o estado passe a atuar de uma forma  institucional e organizada, a fim de evoluir em seus pleitos para que os leilões guardem relação direta entre geração e consumo e que não seja apenas pelo preço da energia em R$/MWh. “A condição emblemática do leilão vai ser a vigilância dos estados do Sul pelos seus resultados”, afirmou. RS como novo expoente de expansão de energias renováveis

O empresário lembra ainda que com a constituição da Sociedade de Propósito Específico (SPE) SZE Transmissora de Energia Elétrica S/A, entre a Eletrosul e as chinesas Shangai Electric e Zhejian Energy, para as obras do chamado Lote A do Leilão 004/2014 da Aneel, que prevê empreendimentos na casa dos R$ 3,9 bilhões, o estado deverá ganhar um novo patamar em termos de atratividade de investimentos. “A partir do ano que vem temos de transformar o Rio Grande do Sul no novo expoente de expansão da geração de energia renovável do Brasil”, defende Pigatto.

Além dos 99 projetos de energia eólica, correspondentes a 2.681 MW, o RS cadastrou para o certame uma UHE de 35 MW; cinco PCHs, em um total de 48 MW; cinco CGH, em um total de 5 MW, e uma térmica a carvão, correspondente a 600 MW, denominado Usina Ouro Negro.

Ouro negro

Um dos mais ambiciosos projetos do país, de geração de energia elétrica a partir do carvão mineral, a usina terá uma potência instalada de 600 MW e vai demandar investimentos de U$$ 1 bilhão. O prazo de conclusão das obras é estimado entre quatro e cinco anos. Somente na fase de construção, a empresa deverá gerar três mil empregos diretos e, em operação, cerca de 500.

O certame
O objetivo do certame é a contratação de energia elétrica proveniente de novos empreendimentos de geração de fontes hidrelétrica, eólica e termelétrica (a carvão, a gás natural e a biomassa), com início de suprimento da eletricidade em 1º de janeiro de 2024. Nos leilões “A-6”, a contratação é feita com seis anos de antecedência. Estão inscritos 1.090 projetos correspondentes a uma oferta de 59.116 MW.

Serão negociados Contratos de Comercialização de Energia no Ambiente Regulado (CCEARs) por quantidade, com prazo de suprimento de 30 anos para empreendimentos hidrelétricos, e de 20 anos para fonte eólica. E por disponibilidade, com prazo de suprimento de 25 anos, para empreendimentos de geração a partir de termelétrica a biomassa, a carvão e a gás natural.

O leilão A-6 de 2018 é o primeiro certame em que a fonte eólica será contratada na modalidade por quantidade, em que os riscos são assumidos pelo gerador, em função da maturidade dessa fonte e de sua competitividade.

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