Logística. UFRGS anuncia parceria com o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts)

Professor Ricardo Augusto Cassel/Foto: Milton Wells/Revista Modal

A busca cada vez mais acentuada do mercado por profissionais especializados em gestão da cadeia de suprimentos levou o Departamento de Engenharia de Produção e Transportes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) a formalizar parceria com o Instituto de Tecnologia de Massachustts (MIT), dos Estados Unidos. A partir de julho, o MIT passará a oferecer seu curso a distância MicroMasters, cujas disciplinas serão aceitas como crédito no curso de mestrado da universidade, segundo informou à Modal o professor Ricardo Augusto Cassel, coordenador de mestrado profissional e do curso de especialização em logística e gestão na cadeia de suprimentos daquele Departamento. A seguir, acompanhe a sua entrevista:

De que maneira um aluno de graduação em engenharia pode se aperfeiçoar em logística?

Há quatro anos existe na UFRGS o Centro de Estudos Avançados em Supply Chain (CEASUP). Uma de suas primeiras iniciativas foi montar um curso de especialização em logística e gestão na cadeia de suprimentos, que é uma das maneiras dos alunos se especializarem em logística. Ele é focado nos problemas da cadeia de suprimentos e na busca de ferramentas que auxiliam a sua resolução. Esse é um dos caminhos do estudante ingressar no estudo da logística.

Existe também o mestrado e doutorado?

Existe o mestrado acadêmico e o doutorado logo em seguida, e o mestrado profissional também. Além disso, temos linhas de pesquisa que são voltados a transportes e na parte de logística e gestão da cadeia de suprimentos. Dentro do mestrado profissional, a UFRGS atua em parceria com o MIT, dos EUA, por meio do curso MicroMasters em que os alunos cursam disciplinas a distância e que são aceitas como crédito. Isso quer dizer que os alunos da UFRGS podem fazer essas disciplinas do MIT à distância e convertê-las em crédito no curso de mestrado da universidade. É uma parceria formalizada recentemente. A partir de julho, vamos postar o logo da UFRGS no site do MIT e vice-versa, como universidade parceira que aceita os créditos das disciplinas oferecidas pelo MIT, as quais são voltadas para a gestão da cadeia de suprimentos. O  MicroMasters do MIT é em suply chain management.

Mesmo o  aluno da graduação em engenharia pode cursar matérias de logística na universidade?

Tanto os alunos da graduação como os de mestrado podem fazer parte de nossas linhas de pesquisa. São maneiras de se manter nessa área de gestão na cadeia de suprimentos. O aluno também tem a possibilidade de concluir o curso de engenharia de produção e se matricular nesses cursos de logística. São essas as principais possibilidades na UFRGS em termos de logística e gestão na cadeia de suprimentos.

Qual o período do curso de especialização?

Na especialização de logística e gestão na cadeia de suprimentos, o curso tem um período de um ano e contêm entre 12 ou 14 disciplinas, com aulas as quintas e sextas à noite, e sábados de manhã.  São três finais de semana e um de folga, a cada mês. Em novembro terminam as disciplinas e, a partir de dezembro, é definido um orientador para o aluno fazer o trabalho de conclusão, que vai de dezembro até junho ou julho do ano seguinte. Em setembro ou outubro, ele defende o seu trabalho na banca. Para a admissão ao curso, o candidato deve inscrever-se e depois fazer uma entrevista, em que o examinador procura saber a área de seu interesse.

Esse mercado está em plena expansão?
Sem dúvida, esse mercado está demandando muita gente. A área de logística das empresas está crescendo muito porque elas entenderam que não adianta serem eficazes e reduzir seus custos.  Elas se deram conta de que para serem competitivas  precisam trabalhar a sua cadeia de suprimentos. Precisam ser eficientes tanto no processo de recebimento como na entrega, na logística de uma forma integrada. Ter uma relação boa com seus fornecedores e com o cliente do meu cliente. Hoje, por exemplo, se fala que as empresas não estão mais competindo entre si, mas muito mais entre as suas cadeias. Hoje é a cadeia produtiva da GM que compete com a cadeia produtiva da Volks, por exemplo. Não será somente no processo de montagem e distribuição que a empresa ganhará essa competição.  Precisa também trabalhar com seus fornecedores, para que a sua cadeia seja eficiente e consiga competir com outra que também está tentando melhorar. Essa é a ideia: a empresa precisa gerenciar muito bem a sua cadeia de suprimentos, porque ela está competindo com outra cadeia e isso torna necessária a contratação desses profissionais de logística que poderão oferecer um diferencial nessa competição.

Por isso existe uma valorização desses profissionais no mercado cada vez maior?

A princípio, o profissional de logística da cadeia de suprimentos é cada vez mais valorizado. E se trata de uma área em que as pessoas estão tentando se aperfeiçoar. Durante um tempo a área de logística estava na área de compras, e isso evoluiu para a logística propriamente dita em que passou a ser ocupada por gente que migrava de outras áreas. Esses funcionários, entretanto, eram despreparados e não entendiam como a logística funcionava. Hoje não, as empresas procuram profissionais especializados oriundos das faculdades, dos cursos de especialização. As empresas agora contratam profissionais do ramo da área de logística.

Esses cursos também são recentes na universidade?

Sim, isso começou neste século. Aqui, na Engenharia de Produção, nós começamos nesta década. O primeiro curso de especialização que nós oferecemos, se não me engano, foi em 2013. Bem recente, portanto, mas existem outros cursos de logística e gestão da cadeia de suprimentos que iniciaram antes do nosso. As faculdades começaram a perceber essa necessidade ao final da década de 90 do século passado, até pela evolução da logística e da cadeia de suprimentos. Em termos históricos, a logística é muito antiga, mas ela começa a entrar no campo da pesquisa paras empresas, a logística de negócios, depois da segunda guerra mundial.

Em termos de antiguidade, Napoleão era o rei da logística…

Era o rei da logística nas guerras Na área empresarial, entretanto,  ela é bastante recente. No Pós- Guerra de 1945, as empresas começaram a entender que elas poderiam usar esses conceitos utilizados na guerra para melhor entregar os seus produtos. Entre as etapas de desenvolvimento da logística, a última que se considera é essa integração com a cadeia de suprimentos e que demanda, entre os itens mais importantes, a informação. Conseguir trabalhar com a informação e ter essa informação compartilhada entre os diferentes entes da cadeia. Se pararmos para pensar em termos tecnológicos, nós não tínhamos isso durante muito tempo. Então, se começa a falar da década de 90 como sendo de integração dos sistemas, porque foi ali que começou a ter essa facilidade de tecnologia da informação e de se saber o que estava acontecendo. Se percebermos que isso é importante para a gestão da cadeia como um todo, passamos a entender porque as universidades começaram a ofertar cursos que tratam disso, a partir do início dos anos 2000.

E aí é que entra essa parceria com o MIT?

O MIT é uma das melhores universidades do mundo. Então, fazer essa parceria de disciplinas que podem ser cursadas é um grande avanço. Trata-se de um curso a distância com uma prova e o estudante, uma vez aprovado, poderá aproveitar esses créditos, em nível de mestrado.

Qual o número de especialistas em logística que a UFRGS forma a cada ano?

Estamos formando 15 por ano. Normalmente são entre 18 e 20 alunos, mas nem todos terminam seu trabalho de conclusão.

Em termos de empresas, se fala muito na logística 4.0. O que está acontecendo nesse campo?

Não sabemos se esse termo, logística 4.0, vai pegar ou não. Mas a ideia é de as informações fluírem mais ainda, de termos muitas fontes de dados, ou seja, vários dispositivos gerando muitas informações e de termos a possibilidade de tratar esses dados para analisar.  Se olharmos para a indústria pensamos nas máquinas gerando muitas informações e na conversa entre elas. A manufatura aditiva, como é conhecida a manufatura para impressão 3D, é considerada uma parte importante da indústria 4.0, da digitalização da manufatura como um todo, que proporciona a customização para o cliente. Ela tende a transformar barbaramente a cadeia de suprimentos como um todo.  Não se precisará mais transportar componentes ou o produto final,  mas somente a matéria prima.  A forma como será trabalhado  mudará muito. Sempre digo aos meus alunos que a viagem a marte vai ser viabilizada desse jeito. Hoje se precisaria de uma espaçonave apenas para levar peças sobressalentes. No caso de uma impressora 3D, ela só imprime o que for necessário. Não se precisará mais de peças sobressalentes.  O fato é que as novas tecnologias  farão com que as cadeias de suprimentos se transformem radicalmente. Quanto melhor a logística, menos custo. Essa logística que gera custo precisa ser entendida como aquela que eu não quero ter. Não me refiro à gestão da logística, que é fundamental, mas a logística da operação em si. É algo que não gostaria de ter porque gera custo. Se observarmos essas tecnologias que estão surgindo, vamos perceber que muitas delas reduzem a operação da logística e seus custos. Mas de que forma essas tecnologias afetarão concretamente a logística ainda é um pouco cedo para falar.

 

 

 

 

 

 

 

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