2016 será o pior ano do setor de infraestrutura no Brasil, desde 2003; investimentos devem cair 21% em termos reais

Claudio Frischtak

Em 2016, os investimentos em infraestrutura, no Brasil, deverão cair para 1,71% do PIB, tendo como referência um valor total de R$ 6,180 trilhões. Em termos nominais, isso representará uma queda de próxima a 14,6% e de 21,6% em termos reais( com base numa inflação esperada de 7%).  Essas estimativas são do economista Claudio Frischtak, da Inter.B- Consultoria Internacional de Negócios – divulgadas por meio de sua Carta de Infraestrutura em sua 15ª edição- e sugerem uma contração em todos os segmentos, mais acentuada em transportes aeroviários e em mobilidade urbana.

Segundo o economista, o país desperdiça um grande volume de recursos que aplica por conta das conhecidas dificuldades de execução concentradas no setor público. Questiona-se a qualidade do investimento, seja por falta de um planejamento abrangente, e de médio e longo prazo, pela fragilidade dos projetos ou ainda por falhas regulatórias. O resultado é que nem sempre com os custos incorridos entregam-se os benefícios prometidos.

“O investimento em infraestrutura necessita ser uma política de Estado; uma política bem desenhada, que reconheça as obrigações do Estado no âmbito do planejamento e regulação, e suas limitações no plano do financiamento e execução. E inversamente, uma política voltada a mobilizar o potencial de contribuição do setor privado – sem subsídios ou artificialismos.”
Na realidade, o envolvimento do setor privado se tornou imprescindível, e não somente por conta da crise fiscal que assola todas as instâncias de governo, aponta o economista.  “Nesta perspectiva é essencial a consolidação do Programa de Parcerias em Investimentos (PPI), divulgado pelo governo federal em setembro de 2016, e que tem o potencial de impulsionar a retomada dos investimentos já a partir de 2017, e de forma mais acelerada em 2018.”

Com base em dados parciais disponíveis, a Inter B aponta que, em 2016, os gastos em infraestrutura deverão somar R$ 105,6 bilhões, representando uma queda nominal de 14,6% em relação a 2015 e uma queda real de aproximadamente 21,6% (com base numa inflação esperada de 7% em 2016). Assim, a contração do ano  seria ainda mais expressiva do que a observada em 2015, e é possivelmente o “fundo do poço” do ciclo recessivo.
Todos os setores apresentam queda nos investimentos em relação a 2015, sendo a maior redução observada em transportes (20,0%) e a menor em saneamento (3,2%).
Energia elétrica
O setor de energia elétrica – em 2015 o único segmento de infraestrutura cujos investimentos se expandiram – em 2016, deverá retrair-se em 9,3% nominais, com investimentos de R$ 36,2 bilhões. O pico das grandes obras na região amazônica já foi ultrapassado, e a fragilidade dos leilões de transmissão em anos recentes se fez pesar no ano de 2016.
Telecomunicações
Em telecomunicações, estimam-se investimentos de R$ 22,3 bilhões, uma contração de 0,46% para 0,36% do PIB, com o fim de um ciclo de investimento. Mesmo com a diminuição dos aportes, o setor continuará respondendo por aproximadamente 21% do total investido em infraestrutura.
Transportes
Em transportes, os investimentos serão R$ 9,5 bilhões abaixo do observado em 2015. Para os subsetores mais relevantes em termos de aportes – rodovias, ferrovias e mobilidade urbana – espera-se respectivamente, investimentos de R$ 15,1 bilhões, R$ 6,7 bilhões e R$ 9,1 bilhões. Nos dois primeiros a retração se deve principalmente à diminuição de investimentos privados por força da recessão, dos problemas que impedem que as renegociações contratuais avancem, e das dificuldades de muitas concessionárias cumprirem suas obrigações de investimento. Quanto à mobilidade urbana, a queda reflete o fim do ciclo de obras previstas para os grandes eventos e a crise fiscal do Estado.
Aeroviário
O modal aeroviário apresenta a maior queda relativa (35,3%), explicado não apenas pelo avanço e eventual término das obras dos terminais privatizados como forte retração da demanda que afetou o fluxo de caixa das concessionárias.
Saneamento
Já no caso de saneamento, após uma acentuada redução em 2015 , os investimentos em 2016 deverão sofrer uma retração mais modesta, de 3,2% em termos nominais. A razão mais relevante é que as obrigações regulatórias e contratuais impediriam uma queda ainda maior, sendo também possível que as eleições municipais tenham afetado o comportamento dos agentes públicos.

Setor privado
Estima-se que neste ano, o setor privado seja responsável por aproximadamente 54% dos investimentos, sendo preponderantes em telecomunicações; e nos segmentos ferroviários, portuários, aeroportuários e hidroviários em transporte. Inversamente, o setor público permanece dominante em saneamento, e nos modais rodoviário e de transporte urbano. Por fim, em energia elétrica, estima-se que a Eletrobrás e as empresas estaduais tenham em 2016 um volume de investimento maior do que o setor privado, ainda que se deve observar uma inversão de posições a partir de 2017.

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