A crescente preocupação com a mudança climática nos países mais avançados, sobretudo da Europa e Ásia, vai propiciar a expansão de um mercado cujo produto ainda engatinha no Brasil. Trata-se de um combustível sólido granulado de resíduo de madeira conhecido como pellets, que são utilizados como combustível ecológico em substituição ao carvão mineral, gás e até toras e aparas de madeira tradicionais. Os pellets de madeira são partículas de madeira compactadas cilíndricas usadas como combustível para queima. O tamanho do grânulo varia de um quarto a um terço (6 a 8 milímetros) de diâmetro e 1 a 1,5 polegadas (38 milímetros) de comprimento.
Foi pensando nesse potencial de demanda que o empresário Luiz Eduardo Batalha, um dos maiores criadores de gado angus do Brasil, de São Paulo, resolveu investir em uma unidade dessa commodity no município de Pinheiro Machado, onde se situa uma grande área florestal formada principalmente por pequenos e médios produtores, com as espécies de acácia, pinus e eucaliptos.
Investimentos
Com investimentos de cerca de R$ 1,5 bilhão, o projeto da empresa Braspell Bioenergia, criada especificamente para esse empreendimento, compreende duas linhas idênticas de 600 mil toneladas/ano, funcionando em paralelo e de forma independente, com previsão de produzir em média um total de 1,2 milhão de toneladas/ano, mais do que o dobro da produção atual do país, estimada em 507 mil toneladas/ano.
Perto da conclusão do projeto técnico e finalizando os contratos com os fornecedores de matéria prima e de equipamentos industriais, a Braspell, na sequência, definirá o processo de funding, que contará com a assessoria do banco BNP Paribas. Com a licença de instalação (LI) em fase final de emissão, a intenção da empresa é iniciar as obras no primeiro trimestre de 2020, com conclusão em dois anos. As operações industriais devem começar logo em seguida, no primeiro trimestre de 2022.
O complexo da Braspell comportará uma fábrica, que será construída numa área de 140 hectares; 45 mil hectares de floresta para matéria-prima também na região, além de melhorias na ferrovia e no terminal portuário. Inclui ainda uma usina termelétrica que vai abastecer a indústra e gerar excedente para o sistema elétrico nacional.
Equipamentos
O empreendimento pretende contar com o “state of art” para todo seu processo. Seguindo este modelo, foram consideradas para o projeto empresas líderes de mercado, seja no setor florestal, de processamento de madeira e pelletização, como nos processos logísticos. Os equipamentos serão fornecidos de países como Alemanha, Estados Unidos, Finlândia, entre outros, e também de empresas nacionais, principalmente do Rio Grande do Sul.
Segundo Igor Jacarini, coordenador do projeto, a tecnologia envolvida durante todo o processo, apesar de “inovadora” para o país, não possui grandes complexidades. O processamento da madeira para sua transformação em pellets envolve, em sua maioria, apenas métodos mecânicos para diminuição do tamanho de partículas, secagem e pelletização, acrescenta lembrando que não haverá durante todo o processo a inserção de produtos químicos ou quaisquer outras substâncias. “A tecnologia se fará presente com inovações nas questões de produtividade e otimização dos equipamentos, principalmente no setor florestal”.
Processo
Durante todo o processo industrial serão respeitadas as normas do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) – que estabelecem os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos –, por meio de equipamentos como filtros, ciclones e afins, para conter todos e quaisquer tipos de emissões que possam ser prejudiciais ao meio ambiente. Também está prevista uma grande estação de tratamento de água para conter todos os rejeitos. Os rejeitos passíveis de reutilização terão seu destino adequado como, por exemplo, as cinzas das caldeiras que serão destinadas à adubação florestal. Já no processo florestal, todo o controle será dado pelas certificações SBP e SFC que garante um cultivo sustentável da cultura.
Logística
Em relação à logística, a Braspell deverá utilizar o carregamento automático de vagões ferroviários dedicados ao projeto para transporte ao terminal marítimo próprio no Porto de Rio Grande.
Ao total, serão utilizados cerca de 2.275.000 m³/ano de toras de eucalipto, pinus e acácia, volume que garantirá a produção contínua das duas linhas de pellets. Para garantir este suprimento anual a empresa firmará parcerias com cerca de 300 produtores independentes oriundos dos municípios de Pinheiro Machado, Candiota, Piratini, Pedras Altas, Hulha Negra, Aceguá, Bagé, Herval, Cerrito, Pedro Osório, Canguçu, Arroio Grande, Jaguarão, Pelotas e Encruzilhada do Sul. A estimativa é de que os produtores parceiros tenham uma renda bruta referente a duas vezes o valor investido no plantio, manejo e manutenção florestal.
Empregos
Nos anos de construção da fábrica (2020 e 2021) serão contratadas 1500 colaboradores trabalhando conjunta e diretamente no pico da construção. Já na fase de operação prevê-se a contratação de até 200 funcionários diretamente na indústria e 800 na atividade florestal. Os empregos indiretos são estimados em cerca de 3mil.
Os pellets consistem na concentração da energia da madeira de forma a proporcionar o seu transporte em longa distância, bem como a adequação de utilização como fonte regular de abastecimento de energia térmica. O processo consiste em aumentar a densidade da madeira, reduzir o teor de umidade e, desta forma, dobrar o poder calorifico de 2,4 MWH/t madeira para 4,8-5,0 MWH/t pellets.
Etapas do processo florestal:
1- Plantio e manejo: serão plantados ou reformados 8.000 ha a cada ano; 2- Manutenção florestal: cerca de 40.000 ha sofreram manutenção florestal a cada ano. 3- Colheita florestal: 2.275.000 m³/ano, similar a colher cerca de 8.000 ha por ano; 4- Colheita dos resíduos florestais como biomassa: 60 t/ha; 5- Transporte da matéria prima: raio médio de 70km até indústria;
Etapas do processo industrial:
1- descasque das toras de madeira: Utilização das cascas como biomassa; 2- picagem das toras (descascadas) para conversão em cavacos: 3,5 cm; 3- floculação dos cavacos para transformação em partículas úmidas: 3 mm; 4- secagem das partículas úmidas com a retirada da umidade: 9 – 10 %; 5- conformação das partículas secas em peneiras e moinhos de martelo: 2 mm; 6- prensagem das partículas secas para transformação em pellets; 7- Estocagem dos pellets e carregamento nos vagões ferroviários dentro da unidade industrial;
Etapas do processo logístico:
1- Transporte ferroviário com 50 vagões dedicados: 180 km; 2- Estoque em Domos: 72 t; 3- Embarque e transporte marítimo em navios de até 60.000 t .
