Barragens do RS atenuaram tragédia de maiores proporções
Para Ricardo Pigatto, é preciso destacar a engenharia de hidrelétricas do Brasil As inundações de maio, no RS, resultaram no maior desastre da história não somente do estado, mas também do Brasil, afetando milhões de vidas. Suas consequências ocorrem principalmente como perdas econômicas diretas, especialmente na forma de danos à infraestrutura e de estoque. De acordo com uma pesquisa sobre gerenciamento de risco para empresas, as inundações são classificadas como uma das três principais preocupações em relação a riscos potenciais, destacando a necessidade urgente de fortalecer a resiliência e executar medidas de mitigação eficazes. Nessa linha é que se destaca o poder das barragens, afirma Ricardo Pigatto, empresário gaúcho, dono de um largo histórico no setor elétrico gaúcho. Para Pigatto, o que ficou constatado é de que “o RS evitou danos muito mais dramáticos às populações atingidas pelas cheias de maio graças ao poder das barragens”. Com mais de 130 pequenas, médias e grandes hidrelétricas, devido à dimensão do evento climático adverso que nunca houve no RS, poderia existir uma suspeita de que essas barragens não suportassem esse volume de água, avalia o empresário. “E não é para menos”, diz. “As pessoas não têm ideia do que se abateu sobre o estado. Por exemplo: na bacia hidrográfica do Taquari Antas, de 26,4 mil km quadrados, choveu mais de 600 milímetros em menos de quatro dias. Isso significa que choveu 600 litros por metros quadrados, o que, multiplicado por 26,4 mil km quadrados, resulta no equivalente a 15 trilhões de litros de água”. “Isso é assustador!”, diz Pigatto e continua: “Mas para nossa feliz surpresa, de todas as barragens do RS, nenhuma teve rompimento e somente 25 sofreram algum dano. Apenas quatro delas com danos mais críticos, uma dessas desativada há vários anos”. Na barragem da UHE 14 de Julho, segundo Pigatto, apenas o chamado perfil Creager que rompeu sem dano para as populações e, entre as PCHs, nenhuma foi em termos de colapso, completa. Isso mostra, segundo o empresário, que é preciso destacar o estado da arte da engenharia de hidrelétricas do Brasil. “Ninguém no mundo projeta uma hidrelétrica como a engenharia nacional. Quem possuía expertise, no passado, eram os franceses e os alemães, mas com o perfil de geração hidrelétrica o Brasil atingiu o topo. Somos mestres e professores, o que demonstra que, apesar dessas inundações, as barragens suportaram largamente esse desafio. É importante que se diga: a engenharia brasileira está de parabéns, assim como a gestão das empresas gaúchas do setor porque não houve danos irreversíveis nas usinas.” Além das barragens, Pigatto aponta a importância das Áreas de Preservação Permanente (APP). Recentemente um estudo do Paraná provou que o estado garantiu um ganho ambiental de 228% em APPs e em plantio de espécies nativas com a instalação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs), que variam entre 0 e 30 MW de potência instalada. “Para uma ideia: somente as APPs de PCHs existentes no país somam uma área equivalente ao reservatório de Itaipu, de 1500 km², as quais protegem a estabilidade geológica e o solo e previnem contra a ocorrência de deslizamentos de terra, o que contribui para a segurança das populações urbanas”. O que se deve aprender Mas o que se deve aprender dessa calamidade? De acordo com Pigatto, existe uma cultura muito forte contra as hidrelétricas e ficou demonstrado que essas usinas, na Bacia do Jacuí, na Bacia do Taquari-Antas, Bacia do Caí, ajudaram demais a conter a onda de cheias e seus danos. “Menos pessoas morreram graças às hidrelétricas”, sustenta. Em relação às obras de infraestrutura de proteção às inundações, Pigatto afirma que o RS precisa desenvolver um estudo muito sério de partição de quedas desses rios, com a participação de ambientalistas. “O que aconteceria rio abaixo na Bacia do Taquari com 600 litros por metro quadrado se não tivessem esses degraus de barragens para conter a onda de cheia? Isso mostra que a população e os ambientalistas contrários precisam aprender que as hidrelétricas são amigas, assim como do meio ambiente; essa mentalidade contrária às UHEs precisa mudar e tomar consciência disso. É isso que deve ficar como aprendizagem”, assegura. Sobre as ações desenvolvidas até o momento no sentido de mitigar os danos de novas inundações, Pigatto avalia que o RS precisa de um trabalho muito forte localizado sobre o tema. “As inundações não aconteceram por apenas um motivo, faltaram mecanismos de controle de cheias. Os danos seriam muito menores com barragens e grandes reservatórios a montante nas cabeceiras das bacias hidrográficas”, argumenta.