Eficiência relativa na emissão de carbono

Plinio Nastari (*)

A análise do Produto Interno Bruto (PIB) e das emissões de carbono das dez maiores economias do mundo é reveladora. Os EUA continuam sendo a maior economia do mundo, com um PIB de US$ 20,54 trilhões em 2018. Mas a China vem crescendo rapidamente, e neste ano já acumulava produtos e serviços no valor de US$ 13,61 trilhões. Voltando no tempo, em 1990 os EUA tinham um PIB de US$ 5,96 trilhões e a China, de só US$ 360 bilhões. Naquele ano, o Brasil tinha um PIB de US$ 461 bilhões, maior, pois, que o da China e também maior que o da Índia, com US$ 320 bilhões, embora com uma população bem menor do que ambos.

Voltando a 2018, o país que mais emitiu gases do efeito estufa foi a China, com 9,3 bilhões de toneladas (t) de CO2 equivalente por ano. Em segundo vieram os EUA, com 4,89 bilhões de t; e, em terceiro lugar, a Índia, com 2,16 bilhões de t. O Brasil apresentou emissões totais de 428 milhões de t. A emissão de CO2 per capita indica que o maior poluidor entre estes dez países é o Canadá, com 15,5 toneladas per capita – os EUA vêm em segundo lugar, com 14,9 t; seguidos pelo Japão, com 8,7 t per capita.

Olhando em perspectiva, é interessante observar que, mesmo sem participar de acordos globais de controle de emissão, os EUA têm reduzido significativamente sua emissão per capita, que em 1990 era de 19,2 toneladas. Outras reduções relevantes podem ser observadas na Alemanha, que passou de 11,8 para 8,2 toneladas de CO2 per capita de 1990 a 2018; e no Reino Unido, que reduziu de 9,6 para 5,3 toneladas per capita. Enquanto isso, nesse período, a China passou de 1,9 para 6,7 toneladas per capita e a Índia aumentou de 0,6 para 1,6 tonelada per capita. No Brasil, esse indicador aumentou um pouco, de 1,2 para 2,0 toneladas, mantendo-se ainda como a segunda menor emissão per capita entre as dez maiores economias.

Interessante, também, é a avaliação da emissão de carbono por unidade de PIB, avaliada em toneladas de CO2 equivalente por milhão de dólares. Em 2018, os EUA emitiram 238,3 t. de CO 2 por milhão de dólares.

Este é um número parecido com o do Brasil, com 229 t, e do Japão, com 220,9 t. Mas destacam-se a Alemanha, com 173 t; a Itália, com 150,7 t; o Reino Unido, com 123,6 t; e a França, com 105,5 t, por causa de sua energia nuclear. O Canadá teve 334,4 toneladas. Mas chama a atenção o volume de emissão por unidade de PIB da China, com 683 toneladas, e da Índia, com 795 toneladas – portanto aproximadamente três vezes maior do que o dos EUA e do Brasil.

Mas, ao longo do tempo, China e Índia têm feito um grande esforço de recuperação, visto que a emissão por unidade de PIB dos dois países era muito pior em 1990, de 5.894 toneladas e de 1.653 toneladas, respectivamente. Mas não estão sós. Os EUA reduziram o seu indicador, que era de 805 toneladas em 1990, assim como a Alemanha, com 530 toneladas, Reino Unido, com 502 toneladas, Canadá, com 708 toneladas, e até o Brasil, com 399 toneladas.

Esses números mostram que, em realidade, está ocorrendo uma silenciosa corrida entre os países não só por aumento do PIB, mas também pelo controle e eficiência de emissões de carbono per capita e por unidade de PIB.

Esses indicadores podem ser de grande valor num futuro que pode não ser tão distante, visto que já se começam a discutir tarifas ao comércio relacionadas à emissão de carbono. Isso tudo reforça a importância de serem criadas medidas e regulações que estimulem a eficiência energética e ambiental. O RenovaBio, Plano Nacional de Biocombustíveis, que passa a ser implementado neste ano, ao criar um sistema de certificação voluntária de eficiência energética-ambiental e ao estabelecer metas de redução da intensidade de carbono para o setor de energia em transportes, coloca o Brasil no centro dessa estratégia global. E como exemplo e referência para muitos outros países. ( Estadão/ 25/02/2020)

(*) Representante da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética.

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