Entrevista com Guilherme Sari. Como foi a adesão da DGE ao home office

Guilherme Sari, diretor comercial da DGE e presidente do Sindienergia-RS

Em entrevista a MODAL, o diretor comercial da DGE Soluções Renováveis, de Porto Alegre,  e presidente do Sindienergia-RS, Guilherme Sari, avalia as principais transformações que sua empresa e o sindicato  estão sendo obrigados a enfrentar devido à contingência sanitária provocada pelo Covid 19. Acompanhe:
Desde que data a empresa está trabalhando em home office? Número de funcionários em operação?

A DGE resolveu partir para o home office na segunda-feira, dia 16 de março, ou seja, logo após o final de semana em que a questão do Covid 19 ganhou maior repercussão e começou o processo de mudanças e definições de fechamento de comércio e indústria. Realizamos uma reunião interna, rotina de todas as segundas-feiras na parte da tarde e definimos por bem que a partir daquele momento, todos os colaboradores da empresa continuariam o trabalho de forma remota. A DGE conta com uma equipe de oito pessoas e mais uma frente no nordeste. Sem contar com terceirizados que atuam diretamente para os projetos da empresa. Todos foram aconselhados a seguir a atividade em home office. Mesmo nos casos de projetos no interior, pois até então ainda não se sabia a dimensão do quadro e gravidade. Eu, inclusive, havia retornado de uma viagem do interior da Bahia na semana anterior e já tinha uma definida para São Paulo na semana seguinte, além de um colaborador que viria para um projeto no interior do RS. Ações que tiveram que ser postergadas.

Foi feito algum projeto-piloto antes de implementar o modelo?

Na verdade, não. E percebemos que de forma geral empresas e instituições não estavam prontas para a imposição do novo modelo. Não neste curto espaço de tempo. Tinha uma reunião de definição estratégica de um projeto em São Paulo que foi toda conduzida por videoconferências surpreendentemente bem. O que mostra que o modelo pode vir a funcionar para muitas situações. Mas foi impactante porque de uma hora para outra não só estávamos em casa para resolver as questões de trabalho, mas também nossos filhos estavam juntos e sem o amparo do colégio para resolver o ensino deles. Ou seja, uma mudança realmente radical.

Foram definidas metas? A jornada de trabalho permanece a mesma? 

Na verdade o funcionamento da empresa DGE é muito focado em resultado. Não temos um banco de horas e muito menos um controle especifico neste sentido, mas sim de entregas de trabalhos definidos e cobrados nas reuniões de segunda-feira. Assim a cobrança vem neste naturalmente. Mas existia obviamente uma comunicação diária dos colaboradores que estavam todos os dias na empresa. Essa relação mudou e o telefone, sistemas de videoconferências e e-mails ganharam maior publicidade na operação. Nada que já não estivéssemos acostumados, mas que acabou virando ferramenta oficial. De fato saímos da zona de conforto.

Houve troca de desktops por laptops? Investimento em celulares e em equipamentos para reuniões a distância?

Pelo nosso trabalho e dinâmica, já tínhamos uma estrutura com acesso remoto. Até porque o home office ou mesmo o trabalho remoto já eram adotados por questões de viagens aos projetos etc. Por isso, neste sentido, não tivemos muito prejuízo. Além do mais tínhamos investido em um servidor com acesso remoto para situações como estas e que acabou servindo para o momento atual. Estamos utilizando ainda duas ou três ferramentas de serviços a distância e que pretendemos oficializar daqui para frente como a grande tendência de mudança absorvida nesta fase. As reuniões e operações estão funcionando bem de forma virtual.

Os canais de comunicação permanecem os mesmos?

Sim. Nosso trabalho funcionava já muito com comunicação virtual como falado anteriormente. Por ter atuação no RS e NE do país e ainda uma relação com investidores baseados no sudeste (grande parte São Paulo) já tínhamos esta rotina no cotidiano. Mas o fato é que sempre envolvíamos isto com muitas viagens para acerto de reuniões e acompanhamento in locu dos projetos. Com o advento do Covid19 tivemos que adaptar tudo para a distância mesmo e aquelas viagens normais vão ser repensadas mais a frente porque muitas podem ser evitadas. E esta será a grande mudança de paradigma daqui para frente. Qual é a real necessidade de se fazer fisicamente presente?

O contato com os clientes é diário?

Como nosso foco e trabalho é no desenvolvimento e estruturação de projetos renováveis, temos uma gama alta de atores no processo. Envolvem desde os proprietários de áreas, empresas terceirizadas, investidores no desenvolvimento de projetos e, em casos separados, investidores na aquisição dos projetos. Temos contato constante com todos. Obviamente que de forma distinta dependendo de cada um. Com os proprietários depende do momento de cada projeto Com as empresas terceirizadas funciona de forma parecida dependendo da demanda dos trabalhos. Mas geralmente mais constante. Já com investidores tende a ser maior (diária ou semanal) pela relação de aportes financeiros e estratégias de negócios.

A empresa investiu em conexões seguras?

Sim, já vínhamos alterando algumas rotinas e formatos essencialmente pela característica do nosso negócio. Como envolve viagens e trabalhos externos, em alguns casos, a questão do uso remoto já vinha sendo implementado anteriormente. O mesmo aconteceu no caso de assinaturas digitais por parte dos nossos contratos. Ainda tem algumas resistências, mas acreditamos que com este advento do COVID19 venha a mudar cada vez mais a forma de operacionalizar algumas ações. Temos uma demanda cartorial muito grande em função de registros de contratos de áreas para estudos, regularização fundiária e mesmo de contrato de trabalho e venda de serviços e projetos. Já estamos realizando muitas assinaturas certificadas e percebemos a adesão das empresas nesse formato de reconhecimento e registro. Isto facilita enormemente o processo e mantém a segurança da informação. Temos cuidados com programas de antivírus também e uso da rede. Utilizamos programas específicos e restrições com o uso. A verdade é que vivemos um período que mesmo com todos os cuidados e programas somos suscetíveis a invasões e transmissão de enfermidades que precisamos estar redobrando a atenção para evitar maior exposição.

Como os colaboradores reagiram à proposta do novo modelo?

Vou confessar que com grande alivio, pois estavam preocupados com as notícias que começavam a chegar sobre o vírus e principalmente com o quadro epidemiológico da Itália. Foi sensato, naquele momento, em reunião de empresa, chegar nesta conclusão e nesta tomada de decisão. E vem funcionando bem.

Todos estão satisfeitos com esse modelo de trabalho? Existem dificuldades de adaptação?  A convivência com os filhos não atrapalha?

A introdução do home office vem funcionando bem para todos os colaboradores que não tem filhos pequenos em casa (o que não é o meu caso). Embora seja muito bom conviver mais com as crianças a demanda delas, associada à demanda escolar, refletem em um maior desafio para conseguir atender a rotina de trabalho que temos. Mas tudo é adaptação. Mesmo em meio ao Covid19 e fase de isolamento a demanda de trabalho não reduziu no quesito renegociação de contratos, ajustes de prestação de serviços, novos entendimentos e mesmo fechamento de contratos que já estavam alinhavados. A verdade que este episódio intensificou algumas demandas neste sentido.

Como foi a resposta dos clientes até o momento?

Muito boa. Todos estão entendendo, até mesmo porque todos estão no mesmo barco, sob a mesma realidade. Assim fica mais fácil.

Considerações finais.

O momento é desafiador e de mudanças. Mudanças em alguns casos que virão para ficar. Tenho certeza que o episodio Covid19 somente acelerou esta revolução tecnológica que viveremos nos próximos anos. Precisamos nos adaptar a isto. Tenho certeza que alguns negócios serão repensados. Entre eles viagens comerciais, investimentos maciços em bens e imóveis entre muitos outros. Estamos vendo que conseguimos trabalhar a distância, que não precisamos estar em um lugar físico sempre e que podemos utilizar de forma diferente os recursos financeiros conquistados. Não é de hoje que vemos uma mudança cultural em gerações mais novas que não tem, por exemplo, a relação com carros e bens de consumo como as gerações vindas de anos anteriores até os meados dos anos 1980 e talvez 1990.

Podemos estar acelerando uma mudança que vai nos causar certa dificuldade de entendimentos, em um primeiro momento, mas que conseguindo entender melhor pode gerar novas e boas oportunidades. Enfim, os tempos estão mais acelerados e precisamos saber ler e processar de forma a sobreviver bem esta revolução global.

 

 

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