Infraestrutura, eficiência, razão, crescimento econômico e redução da fome e da miséria

Luiz Afonso dos Santos Senna

Por mais de 30 anos fui professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma das mais conceituadas Escola de Engenharia dentro de uma das mais conceituadas Universidades do Brasil. Além de escrever artigos científicos, livros e textos de divulgação do conhecimento, tive também a oportunidade de ministrar aulas ajudando a formar uma geração de alunos de graduação, especialização, mestrado e doutorado. Os hoje profissionais ocupam cargos relevantes na iniciativa privada, empresas, em governos, órgãos internacionais de fomento e ONGs, entre outros.

Também realizei pesquisas em várias áreas de transportes, orientei TCCs, dissertações de mestrado e teses de doutorado. Participei em bancas no Brasil e no exterior e prestei serviços à sociedade. Tive ainda, em minha vida profissional, a oportunidade de fazer gestão e exercer alguns cargos executivos, dentre eles as de Vice-diretor da Escola de Engenharia da UFRGS, Diretor da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), Secretário de Transportes e Diretor-Presidente da EPTC, em Porto Alegre, além de Conselheiro-Presidente da AGERGS (Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul). Por fim, também atuei em consultorias nacionais e internacionais, o que me deu uma boa visão de mundo, ver que tem gente em situações muito piores e mais necessitadas do que nós, mas também que é possível termos e sermos muito melhores do que temos e somos.

Em todos esses anos, sempre tive em mente o fato que a engenharia como um todo, e a infraestrutura em particular, sempre foram, são e serão fundamentais para a melhoria da qualidade de vida da sociedade, e responsáveis maiores pela real inclusão social.

Quando se fala em inclusão social, normalmente nos vêm à mente as ações sociais para a redução da pobreza, da fome e da miséria em seu sentido mais amplo. Mas pensemos no que significa para uma pessoa ter um serviço de transporte qualificado, que permita chegar em pouco tempo a seu destino; uma via pavimentada, que viabilize a chegada de um veículo ou uma calçada que lhe permita caminhar sem pisar no barro em dias de chuva. Ter água e esgoto é um indicador de civilidade, assim como energia, habitação e internet.

Porém, infelizmente, em 30 anos muito mudou, mas ainda não conseguimos acabar com a fome e a miséria, e muito se deve a não termos feito as lições mínimas requeridas dos governos e da sociedade em geral. Temos sido sistematicamente incompetentes em prover infraestrutura, e por consequência, em reduzir a pobreza e acabar com a fome no país.

 

A falta de acesso regular a uma alimentação adequada por grande parte da população brasileira tem sido um dos principais desafios enfrentados pela sociedade ao longo dos últimos anos. O país, que havia saído do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, por meio de estratégias de segurança alimentar e nutricional aplicadas desde meados da década de 1990, voltou a figurar neste maldito Mapa, a partir de 2015. A COVID-19 agravou o problema, porém não foi o único responsável por esta humilhante situação.

Escrevo este texto com um certo pesar: de ter dedicado boa parte da vida profissional tentando de várias formas ajudar a reverter este doloroso quadro, e ver que ainda falta tanto….  Mas, como sou um irreparável otimista, nato e incorrigível, não desisto nunca.

A boa técnica, a razoabilidade econômica e financeira, o planejamento, enfim, a inteligência, são as únicas formas de avançarmos em direção a uma sociedade justa, próspera e equânime. Obviamente, este discurso vai além dos discursos populistas, de esquerda e de direita, que apregoam soluções fáceis e distribuições irresponsáveis de benesses.

A participação privada é fundamental na provisão de infraestrutura, e para tanto são condições sine qua non a existência de ambientes regulatórios adequados, segurança jurídica e projetos robustos.

 

A vida não é fácil, mas pode ser melhor vivida por tosos. Não existem soluções mágicas, fáceis nem tampouco simples. Soluções robustas requerem conhecimento, profundidade, inteligência e compromissos sustentáveis, com a atual e com as futuras gerações.

 

A verdadeira guerra a ser vencida é a da razão….

 

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