O setor privado amplamente considerado o motor do crescimento econômico não está contribuindo como deveria para as práticas de sustentabilidade em suas operações e estratégias de negócios, segundo afirma Maria Emília Peres, diretora de Consultoria e líder de ESG (Environmental, Social and Governance) na Deloitte Brasil.
Um problema comum, observa, é a falta de compromisso e empenho da alta direção das empresas além de restrições financeiras e falta de capacidade interna que dificultam a adoção de tecnologias verdes.
Competição
A competição acirrada em alguns setores também pode levar as empresas a preferir a lucratividade em detrimento das práticas sustentáveis, acrescenta . “Junto a isso, a falta de regulamentação específica e a ausência de incentivos financeiros adequados podem desencorajar as empresas a adotarem ações mais abrangentes de sustentabilidade”, completa.
Para que esses obstáculos sejam superados, Maria Emília Peres defende a união de esforços de empresas, governos, sociedade civil e outros atores relevantes. “É necessária a adoção de políticas públicas adequadas, promover a educação e conscientização, colaborar entre empresas e criar parcerias para avançar em direção a uma economia mais sustentável e responsável”, sustenta. “O agente público tem um papel fundamental de instituir leis e regulamentos ambientais abrangentes. Essas regulamentações incentivam práticas sustentáveis e responsáveis por parte das empresas e cidadão”.
Apesar de ainda incipiente, nos últimos anos, a demanda por investimentos sustentáveis tem crescido significativamente no país, assinala a líder da ESG na Deloitte. Investidores, empresas e organizações estão se comprometendo com práticas mais sustentáveis e transparentes, levando em consideração fatores ESG em suas operações e decisões, acrescenta.
CVM
Contribuiçõe Uma das contribuições mais significativas em favor da sustentabilidade no Brasil, observa Emília Peres, é da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), responsável pela regulação do mercado de capitais no país, que tem buscado aprimorar a divulgação de informações relacionadas a ESG pelas empresas de capital aberto. “Embora o conceito de ESG esteja ganhando força no Brasil, é um processo contínuo e em constante evolução. A conscientização e a adoção de práticas ESG variam entre as empresas e os setores, mas a tendência é de crescimento e integração cada vez maior desses critérios nas estratégias de negócios e investimentos no país”.
Setores com deficiência
O transporte marítimo, a aviação comercial, a indústria pesada, a agricultura e a geração de energia são setores que ainda enfrentam obstáculos como a dependência de combustíveis fósseis no caminho para uma economia de baixo carbono , relata a executiva.
A sigla ESG surgiu em 2004, na publicação “Who Care Wins”, desenvolvida pelo Pacto Global da ONU em parceria com o Banco Mundial. Em 2020, dois eventos consolidaram a relevância desse termo: no “Relatório de Riscos Globais 2020”, apresentado no Fórum Econômico Mundial, os cinco maiores riscos listados foram ambientais.