Mais uma safra sem irrigação sistêmica

Cylon Rosa Neto/ Divulgação

Cylon Rosa Neto (*)

Estou em mãos com os jornais de 3 de agosto de 1977, 3 de junho de 1978, e 30 de março de 1980. Neste último diz a chamada de primeira página: “Plano de irrigação do estado é a garantia para as safras de verão”.

Passados quase 40 anos, ao ler esta manchete, damo-nos conta do quanto deixamos de fazer e de quanto é efetivamente o custo de não fazer.

O Rio Grande do Sul é um estado pujante e pioneiro em tecnologia no setor primário. Porém é dependente do mais rudimentar e o mais essencial dos insumos: a água. Apesar de termos quase 2.000 mm de chuvas médias anuais, nosso clima no verão tem características de semiárido, e isso coloca em risco, a cada ano, toda a economia do estado.

As frequentes estiagens resultam em verdadeiras  tragédias econômicas para significativa parcela dos produtores  devido à ausência de uma política pública sistêmica de irrigação. Este ano, infelizmente, esta situação poderá se repetir.

O clima semiárido de verão traz ao estado a oportunidade única de muitas horas de insolação, o que, se combinado com a disponibilidade de água, possibilitaria ao RS sucessivas safras de sucesso e consequentemente um processo de crescimento econômico sustentável e contínuo no setor principal da economia.

Além dessa questão econômica, associado ao fato de se implantar obras de irrigação, e acumular os excessos hídricos de inverno, ganhamos componentes ambientais relevantes. Isso porque garantem as vazões de regularização dos cursos d´água onde se implantam e, por consequência,  asseguram às cidades de jusante o abastecimento público. Isto é tão verdadeiro que, no presente momento, dezenas de municípios do RS estão em situação de emergência. Como, por exemplo, o município de Bagé, de relevante participação no PIB estadual, que está sendo obrigado a enfrentar um racionamento de água devido aos baixos níveis dos reservatórios da cidade. É o sexto racionamento nos últimos 30 anos. Isto é inadmissível em pleno século 21.

Agora, após sucessivas administrações, em que a irrigação foi tratada com desleixo e transferida para diferentes secretarias, parece ter, finalmente, se estabelecido com convicção na Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação (SEAPI)

Cabe ao poder público, então, levar a termo os múltiplos planos e investimentos de irrigação previstos, cuja viabilidade econômica é absolutamente fundamentada, há muito estudada e amadurecida. Do contrário, as gerações futuras cobrarão mais esta omissão.

(*) Vice-presidente do Sicepot-RS e presidente da Fórum de Infraestrutura das Entidades de Engenharia do RS.

 

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