Em todo o mundo, a energia está se reinventando. No Brasil, o modelo do setor está em xeque devido à crise hídrica. É justamente nesse cenário que nasceu a Noale Energia, uma espécie de One-Stop Shop que oferece os mais variados serviços e soluções, com atuação nos segmentos de regulação, engenharia e finanças.
Em operação há pouco mais de três meses, a nova empresa, com sede em Porto Alegre, reúne nomes com expertises reconhecidas no mercado. Referência como especialista no setor elétrico nacional, o advogado Frederico Boschin disse que a ideia de criar a Noale surgiu por uma necessidade de atender seus clientes de uma forma mais ampla, indo em direção ao público que necessita de orientação consultiva e assessoria na modelagem de contratos e negócios em energias renováveis.
“Para consolidar o projeto, montamos uma sociedade com grande grau de experiência e equipe sênior de profissionais, como um amigo de mais de 20 anos, que é o advogado Lucas Ferrari, mestre em propriedade intelectual e direito digital, e o amigo e colega de mercado, o engenheiro Wolf Rowell, com anos de experiência na indústria e que atua em várias áreas como eficiência energética térmica e elétrica, energias renováveis e sistemas de cogeração”, acrescenta.
Hoje, o carro-chefe de serviços é assessoria para modelagem e estruturação de projetos de energia no mercado de geração distribuída e, mais recentemente, o mercado livre. Produtos já consolidados no mercado devido à atuação anterior dos integrantes da empresa.
Clientes
Todavia, o portfólio da Noale Energia inclui ainda uma variedade de outras atividades no setor de energia, como desenvolvimento e análise de viabilidade de projetos de energias renováveis, modelos econômicos, modelos de negócios, assessoria contratual e regulatória, soluções para consumidores finais e serviços que envolvam as disciplinas da regulação setorial, contratos, engenharia e finanças.
Com uma carteira já consolidada de quase 50 clientes ativos, dos mais diversos portes, desde multinacionais a investidores e integradores, a Noale vem crescendo de faturamento a cada mês, muito pela demanda do mercado bastante aquecido e pela necessidade de identificação e estruturação de operações e projetos de redução de custo de energia. E, apesar de contar com uma rede de parceiros externos de apoio, já percebe estar próxima do limite de demanda.
Entre seus clientes, uma parte advém do segmento de GD, que recentemente teve aprovado o PL 5829 na Câmara dos Deputados e que ainda deve passar pelo Senado antes de ir à sanção do presidente da República.
Complexidade
Para Boschin, o PL desburocratiza alguns formatos compartilhados e favorece modelos de negócios mais sofisticados e tecnológicos, além de favorecer algumas fontes de geração, como as Centrais de Geração Hidráulica (CGHs) e as gerações através de biogás e biomassa (as UTEs). “Além de desburocratizar a própria reunião de consumidores, ela também ajuda esse mercado com a desoneração do pagamento da demanda contratada e cria a de uso de geração, com a alteração da titularidade dos consumidores para a unidade gerador”.
O que isso significa na prática? “É que será possível fazer uso do benefício do ICMs, e isso melhora o cenário da GD para as usinas modeladas no formato compartilhado e que podem agregar faturas na mesma titularidade”.
Cuidadoso em uma análise mais profunda sobre o novo marco da GD, que ainda pode sofrer modificações no Senado, Boschin adverte que se trata de uma legislação bastante complexa e isso deve dificultar seu entendimento para aqueles que não atuam no setor.
O importante, segundo ele, foi pacificar a questão do pagamento do fio que era a maior polêmica. “De certa forma, o PL foi o melhor acordo possível e evitou, pelo menos no momento, que a GD viesse a pagar 60% do custo do fio mais encargos, o que chegaria a quase 2/3 da fatura de energia e do custo do kWh”, avalia. “O cenário é positivo para o setor fotovoltaico sobremaneira, mas agora o debate deve seguir para outros temas, como a diversificação do setor elétrico”.
Dúvidas
Para Boschin, restam dúvidas sobre a regra de transição, ou seja, o escalonamento dos percentuais a serem creditados, assim como a questão do pequeno integrador da energia solar. Ele pergunta: “Diante da complexidade da regra, como vou calcular mobilidade de usina quando não consigo saber o que vai ser creditado ou não?” E completa:
“O fato é que essa complexidade pode afetar o pequeno, na medida em que esse cálculo pode gerar desconforto no comprador que pode se sentir ludibriado”.
Outro ponto, ressalta, é sobre o crédito a receber. Hoje as concessionárias têm bastante dificuldade de proceder com o creditamento correto e são sistemáticos os erros de compensação no sistema elétrico, em que ocorrem distorções nos créditos gerados e os computados ao cliente, sustenta. “E se acrescentarmos o número de variáveis que se criou na regra, mais dez ou quinze, ficará mais complicado ainda receber. Será preciso fiscalizar as concessionárias”.
O potencial do RS
Sobre o potencial do RS de usinas hidráulicas no segmento de GD, Boschin é otimista. Segundo ele, trata-se de um dos estados, juntamente com SC, PR e MG, de mais tradição no setor, sobretudo pela sua topografia. “Talvez o RS não tenha sido mais explorado pelas tarifas que não são tão favoráveis para esse tipo de empreendimento, como as CGHs”, assinala.
No caso do financiamento das hidrelétricas, ele repara que essa variável obedece a um processo bastante particular devido ao fato de que os ciclos de obras são mais longos que os demais, além de uma contingência de riscos muito maior, principalmente devido à questão ambiental. “Esse risco de sempre foi um desafio na modelagem econômico-financeira desses investimentos, mais pela disponibilidade do investidor de enfrentar esse desafio. Mas com o PL é bastante provável que as hidráulicas tenham uma retomada pelo mercado nos próximos anos no formato da GD”.
Projetos híbridos
Em relação aos cenários de projetos híbridos, Boschin diz que se trata de um velho sonho do setor elétrico do Brasil, seja no mercado livre ou na GD. E seria uma das grandes formas de melhorar a performance desses empreendimentos, principalmente se considerarmos que durante uma crise hídrica existe o casamento de duas fontes: se não é possível gerar energia com hidráulica, a solar pode substituí-la. “Até hoje não consigo entender porque não avançamos na regulação desse formato. Isso seria uma das grandes soluções para a crise hídrica que estamos vivendo. É preciso encontrar uma resolução que consiga atrair o investidor”.