Para Absolar, aumento do mercado livre deve ser feito de forma concatenada com outras mudanças estratégicas

Rodrigo Sauaia, da Absolar na Comissão de Infraestrutura do Senado

Com uma introdução em que destacou a importância do PLS-232 como carro-chefe da modernização do setor elétrico brasileiro e do fundamental papel dos senadores para ajudar a construir um relatório mais afinado com a expectativa do setor elétrico e da sociedade, Rodrigo Lopes Sauaia, presidente da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar), em audiência pública na Comissão de Infraestrutura (22/08), listou o que definiu como “pontos de atenção” ao debate.

De acordo com o executivo, a Absolar acredita que exista uma oportunidade de economia para a sociedade e para o cidadão fazer o setor elétrico mais competitivo. “No entanto, é preciso que se faça esse processo com períodos de transição”, destacou. Nessa linha, sinalizou que o aumento do mercado livre deve ser feito de forma concatenada com outras mudanças estratégicas. Assinalou também que os preços de liquidação das diferenças são considerados como não críveis e citou como exemplo a volatilidade da metodologia utilizada, o que torna difícil trabalhar com a forma como esses preços são calculados.

Há também, segundo ele, a questão da inadimplência na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). E ao aumentar a participação do mercado livre, essa inadimplência se tornará cada vez maior. “Já são volumes milionários, até bilionários,  e é preciso ter isso em atenção”, pontuou o executivo.

Um aspecto importante, na opinião do líder do setor de energia solar no país,  é a incorporação de atributos de aspectos ambientais. “Este debate precisa entrar na pauta, pois dizem respeito muito mais do que apenas o elétrico do setor elétrico. E é preciso valorar aquelas formas de gerar energia renovável que menos impactam a nossa sociedade”, enfatizou.

Na sequência, o executivo reportou-se aos descontos nas tarifas de uso dos sistemas de transmissão (Tust) e de distribuição (Tusd). Lembrou que existe a proposta de retirar gradualmente esses descontos. E a posição da Absolar é de que isso deve ocorrer de forma gradual e previsível para que os empreendedores que hoje têm acesso a esses benefícios  possam planejar os seus modelos de negócios que vão mudar no momento em que esse benefício não existirá.

Hoje existe um desconto de Tust e Tusd não meramente por uma diretriz arbitrária, reportou Sauaia. Existe porque as fontes renováveis têm benefícios que não são precificados pelo setor, são as chamadas externalidades, e é preciso incorporar isso. Se remover esses descontos, os benefícios não deixam de existir. Continuam existindo e são precificados, acrescentou.

Também nesse processo, conforme o executivo, é preciso tratar diferentes como diferentes. Afirmou que existem visões de que esses descontos de Tust e Tusd  ocorra de forma igual para todas as fontes renováveis. “Acontece que tratar diferentes como iguais não é isonomia. As fontes eólica e biomassa já têm 15 GW de projetos com desconto de Tust operando  no mercado e a fonte solar conta somente com 2 GW. Isonomia para nosso setor não é terminar o desconto no mesmo momento que outras fontes estão mais maduras. É entender que cada fonte tem a sua maioridade. Se o momento ou volume de referência vai ser 15 GW, então deixemos que outras fontes que ainda não tem 15 GW, que é o caso da energia solar,  das PCHs, e do biogás, que elas atinjam a maturidade com seu desconto e não sejam levados a perdê-lo junto com outras fontes que já estão mais amadurecidas”, acrescentou.

Outro tema importante, segundo Sauaia: a separação de lastro– capacidade total de produzir eletricidade em MW- e energia – a quantidade física que os equipamentos produzem. Para ele, esse é um modelo novo que não foi implementado no Brasil e que se encontra na fase de discussão sobre o conceito a ser utilizado. Afirmou que é preciso primeiro definir com clareza qual o modelo que será utilizado para precificar as componentes de lastro e as de energia, levando em consideração nesse processo a relação das diferenças entre as fontes.

Acrescentou que o fato de não existir um histórico no Brasil será preciso incorporar uma modelo de financiabilidade para esse processo.   Lembrou que hoje a contratação de energia é baseado em contratos de 20 anos. E se essa energia deixar de ser contratada e apenas um pedaço do projeto for contratado no longo prazo, será preciso saber como fazer o financiamento parar de pé porque o projeto irá demandar mais recursos. “Isso é importante porque as renováveis têm características especificas. Elas não têm custo  de combustível e nem risco cambial atrelado a risco de combustível, sendo necessário levar em consideração esse baixo risco cambial, a complementariedade entre as renováveis e a localização dos projetos. Um projeto desenvolvido perto do centro de carga e dos consumidores deve valer mais do que um projeto distante das unidades consumidoras entre outros atributos”, sustentou.

Ao encerrar, Sauaia deixou um pedido aos senadores. Segundo ele é preciso construir um marco legal para o segmento de GD que ajude a trazer clareza e garantir em lei o direito do consumidor de produzir sua própria energia impa e renovável através de suas diferentes fontes.

“Assim como os brasileiros são empreendedores em vários segmentos, existe o empreendedor energético renovável que precisa de um marco legal. Isso porque não existe no Brasil um marco legal para a GD. Hoje existe marco legal regulatório e a regulamentação é volátil e também gera incerteza e risco pela ótica do investidor, do consumidor e do empreendedor”, finalizou.

 

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