Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul deverão trabalhar em conjunto para acompanhar as negociações da licitação da Malha Sul (RS-SC-PR), hoje sob concessão da empresa Rumo. Pelo menos este foi um dos compromissos assumidos pelos três estados durante o 10° Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud), encerrado em 01/03.
A ideia, segundo os integrantes do Grupo de Trabalho (GT) Malha Ferroviária criado pelo vice-governador Gabriel Souza, é prospectar novos negócios e possíveis investidores nacionais e internacionais para aumentar a competitividade e, se possível, buscar nova concessionária em substituição à Rumo, cuja concessão de 7.223,4 km encerra-se em, 01/03/ 2027. Prevista para o quarto trimestre do ano, a renovação da concessão da Malha Sul, segundo informações da Agência Infra, estaria fora de cogitação pelo governo federal, que deve encaminhar estudos para a nova licitação.
No RS, dos 3.259 quilômetros da malha ferroviária concedida, apenas cerca de 1.100 km são utilizados no período da safra, reduzindo-se para entre 800 km a 900 km nos demais meses do ano, segundo informou à MODAL o presidente do Sindicato dos Ferroviários do RS, João Calegari. “Ao todo, foram desativados cerca de 1.800 km na malha da Rumo no RS”, completa.
De acordo com Calegari, desde o início da concessão encontra-se desativado o trecho entre São Borja e Santiago e, nos últimos anos, todo o acesso ao Mercosul: Cacequi-Rosário do Sul e, na sequência, Cacequi-Uruguaiana.
Sobre o volume de carga transportado, não há dados oficiais da empresa, nem relativo a cargas oriundas de São Paulo em direção ao Porto do Rio Grande, e de Rio Grande para Paranaguá e de Rio Grande para o Porto de Santos. “Sabe-se apenas que internamente, no estado, são transportados combustíveis e grãos”, informa.
Calegari relatou a inexistência de manutenção, falta de trocas de trilhos e redução do material rodante (máquinas e vagões), muitos dos quais foram transportados pela empresa para São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Dados da ANTT, segundo Calegari, relataram a redução da velocidade dos trens, em determinados trechos, de 30km por hora para 20km por hora e de 20km para 10km por hora. O trecho de Ijuí a Cruz Alta, de 60 km, leva até seis horas, relatou o presidente do SindiferRS.
No RS, a Fecomércio, Farsul e a Federasul são contra a renovação da concessão da Malha Sul operada pela empresa Rumo. Na gestão do governo José Sartori (2015-2019), o RS encaminhou ao governo federal um amplo dossiê sobre a operação da Rumo no RS. Entre as reivindicações, o governo gaúcho solicitou a reativação dos seguintes trechos: Erechim-Passo Fundo; Getúlio Vargas-Marcelino Ramos; Santo Ângelo- São Luiz Gonzaga; São Luiz Gonzaga- Santiago; Santa Rosa- Santo Ângelo; Santana do Livramento- Cacequi e São Borja- Santiago. Entre as necessidades do modal ferroviário no RS, o governo Sartori listou: carecem de processo de modernização; abandono de 35% da malha ferroviária; defasagem tecnológica; baixo padrão de produtividade; volume transportado decrescente.
Em entrevista à MODAL, o Secretário de Estado de Portos, Aeroportos e Ferrovias (SPAF) de Santa Catarina, Robison Coelho, afirmou que a Rumo prometeu uma recapacitação na Malha Sul no trecho de Mafra a Lages, com troca de trilhos e dormentes para aumentar a segurança, a velocidade e a capacidade do modal. “Dos 4 milhões de toneladas transportadas em 2023, a empresa informou que com a recapacitação poderá chegar a mais de 10 milhões de toneladas”, acrescentou Coelho.
“Apoiaremos a Rumo Malha Sul apenas se a recapacitação for de fato confirmada. Nossa convicção é que a renovação da malha ferroviária deve ser impulsionada por investimentos, e não como na concessão inicial, quando não foram aplicados novos recursos”.
Hoje, dos 1.219 km da malha ferroviária de Santa Catarina sob a concessão da Rumo, foram desativados 620 km , segundo a SPAF.
A empresa Rumo Malha Sul, que gerencia a Malha Sul, propôs ao governo federal a antecipação da prorrogação da concessão no trecho ferroviário, que iria até 2027, por mais 30 anos. Em contrapartida, a empresa oferece um investimento privado de R$ 10 bilhões em um percurso de 3 mil km, ou seja, seriam devolvidos à União 4.223,4 km.
A Modal tentou contato com o governo do Paraná que não deu retorno.