Pauta para a eleição: abaixo a mediocridade!

Luiz Afonso dos Santos Senna, PhD 

A nossa Constituição Federal, que rege nossas vidas e a de nosso país, não menciona em seu corpo a palavra “infraestrutura”. Este é um fato emblemático sobre o qual devemos refletir.

A história mostra que os políticos se preocupam mais em prover formas de dividir a riqueza do que de produzi-la. Ao invés de premiarmos quem produz, os penalizamos. Veja-se a carga tributária absurda que incide sobre quem produz e a forma incompetente com que é gasta por uma burocracia ineficiente. Acrescente-se a isto o amadorismo com que decisões que deveriam ser relevantes são tomadas, refletindo a falta de profissionalismo dos eleitos para tomarem decisões em nome da população.

Ao sequer mencionar a infraestrutura, os constituintes remeteram para legislação infraconstitucional esta fundamental área da vida nacional.

Sem infraestrutura adequada, não existe crescimento sustentado. Sem energia, telecomunicações e transportes, entre outros, colhemos apenas frustrações.

O Brasil e o Rio Grande do Sul têm sofrido com a falta de investimentos sustentáveis ao longo do tempo e de ações eficientes na área de infraestrutura. Os números são de uma pobreza extrema: o Rio Grande do Sul possui apenas 8% de rodovias pavimentadas, diante de uma média nacional de 12%, e quando entre os países do BRIC, o país que possui menor rede pavimentada é a Índia, com 40%.

O processo eleitoral que se aproxima pode ser também emblemático. Já tivemos várias experiências, ao centro, à esquerda e à direita, e todas deixaram a desejar. Esta, aliás, tem sido a sina na pobre história econômica de nosso país. Troca-se seis por meia dúzia, porém as ações são sempre as mesmas, e os resultados, é óbvio, serão sempre os mesmos: pífios, corroborando a máxima de Albert Einstein quando define insanidade: “fazer sempre a mesma coisa e esperar resultado diferente”.

Obviamente, esta missão deve ser também responsabilidade do empresariado, que é tão responsável pelo quadro atual quanto o mundo político, das universidades, da mídia e de toda a sociedade.

Espera-se que a campanha eleitoral não seja apenas uma discussão vã sobre quem é mais ou menos corrupto, mais ou menos ético. Espera-se que questões de fundo sejam discutidas, tais como formas de financiamento da infraestrutura, o papel e participação da iniciativa privada, e o que fazer para que o país e o estado disponham de eficiência sistêmica. Mais do que isto, devem ser apresentadas soluções par resolver problemas como os ridículos 8% de rodovias pavimentadas no estado e par aos 12% do país.

Espera-se também que a geração atual possa ver o dia em que o país não precise mais de pretensos messias salvadores da pátria, de direita ou de esquerda, para encontrar seus caminhos. A combinação de razão, lógica, equilíbrio e responsabilidade é a única possibilidade que temos de chegar no futuro em condições melhores que as atuais.

O mundo está mudando muito rapidamente, mas as ideias parecem estar congeladas no tempo. As propostas e ações não se renovam. Termos como eficiência, mérito, produtividade e competência são tidos como palavrões que ofendem os estúpidos ouvidos dos beneficiários da ignorância. Precisamos deixar para traz este profundo pacto de mediocridade em que estamos inseridos.

O déficit intelectual que assola os tomadores de decisão em nosso país tem deixado marcas profundas no desenvolvimento da sociedade, que pode ser ainda mais impactante porque na política, na economia e na ética, não temos mais reservas técnicas para queimar.

Inspiremo-nos em Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo de travessia; e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.

 

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