Produtores vivem incertezas para o escoamento da safra da soja em Rio Grande

Foto: Divulgação

A próxima safra da soja gaúcha começa a ser escoada daqui a cinco meses. O tema já preocupa produtores. Afinal, 80% das 13,6 milhões de toneladas estimadas pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) para 2018 serão exportadas pelo porto de Rio Grande que enfrenta sérios problemas de navegabilidade devido à falta de dragagem de adequação/manutenção do canal de acesso. A lentidão para o início das obras de desobstrução impacta nos armadores de linhas internacionais, os quais têm feito alertas as autoridades sobre as condições do porto gaúcho.

O maior problema é o tempo – ou melhor, a falta dele. Como adiantou matéria da Revista Modal, o Ibama aguarda o envio do Plano de Dragagem para concluir o exame de licença ambiental. O primeiro, de 2015, foi recusado por apresentar layout diferente do estabelecido e por não possuir adequada caracterização dos sedimentos, disse à revista Modal, Angotti Magnino, coordenador de Licenciamento Ambiental de Portos, Pesquisa Sísmica Marítima e Estruturas Marítimas do órgão.

Três anos de alertas

Mesmo que o Ibama conceda a licença, hipoteticamente até o final deste ano, ou mais tardar, no começo de 2018, e sejam alocados recursos, ainda assim, não haveria timing  para a realização da dragagem que permita a livre circulação de navios graneleiros carregados com carga total. O aceno do governo estadual em contratar uma empresa para fazer estudo com objetivo de identificar o mínimo necessário de retirada de sedimentos, se mostra incapaz de produtos efeitos positivos porque esbarra no mesmo problema:  limitação do tempo.

“Os produtores de soja não têm plano B. O plano B é o A”, diz Fabio Avancini Rodrigues, diretor da Farsul, definindo como extremamente preocupante a situação. “São três anos de ações junto ao governo do estado no sentido de alertar e cobrança de medidas para o escoamento da soja”, emenda o dirigente. Sem calado, restam duas alternativas para os operadores: menos carga nos navios ou esperar a maré subir para ganhar o calado. Como na prática, quem compra o produto é quem escolhe o terminal, Fábio Rodrigues acredita a tendência é que uma parte seja deslocada para terminais de Santa Catarina.

Cavaco de madeira

Para Mateus Almeida, gerente de operações da Oceanus Agência Marítima, o calado afeta o transporte de cavaco de madeira. “Se a profundidade fosse maior poderíamos empregar navios maiores e utilizar 100% da sua capacidade”, assinala, acrescentando que alguns navios atualmente não podem transportar carga total devido as limitações do calado. O executivo ressalta que a falta de investimentos em infraestrutura prejudica navios que operam no terminal de contêiner do Tecon. “Há uma série de restrições para movimentação de navios de 340 metros de comprimento, por exemplo, em função das condições de mar e vento. Daí a necessidade de investir em calado, aprofundamento e sinalização”, aponta Almeida.

Fernando Becker, presidente do Conselho de Administração da Trevisa, informa que a falta de dragagem em Rio Grande não atinge diretamente empresas que usam hidrovias. “Mas indiretamente, sim, na medida que não há a saída de volumes maiores pela barra, acaba provocando um represamento no porto, e com isso, gera a falta de espaço para quem precisa exportar”. Sobre a demora na emissão da licença ambientas, o empresário estranha o posicionamento do Ibama em apontar outra área para o descarte do lodo retirado do fundo do mar e Lagoa dos Patos. “Desde minha infância sempre foi assim”, lembra.

Situação da Região Sul

De acordo com informações do ministério dos Transportes, atualmente estão em execução os serviços de dragagem nos portos de Paranaguá (aprofundamento) e Itajaí (manutenção). A dragagem no porto de Paranaguá (PR) foi licitada em 2014/2015, com o valor de R$ 394.2 milhões. O percentual de conclusão atinge 11%. A dragagem do canal de acesso ao porto de Itajaí (SC) foi licitada em 2016, cujo valor do empreendimento é de R$ 38, 8 milhões. Já foram executados 14%. A dragagem do canal de acesso ao porto de Rio Grande foi licitada em 2014/2015. O valor do empreendimento é de R$ 368,6 milhões.

 

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