Setcergs defende novo modelo de concessões de rodovias

O Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs) defende um modelo de concessões, em que os recursos arrecadados por meio dos pedágios sejam utilizados não somente na conservação, mas também na duplicação dessas rodovias. “Dessa forma, as concessões contribuiriam de forma efetiva para a redução dos riscos de acidentes de trânsito e de mortes, o que tem representado um alto custo para a sociedade gaúcha e brasileira”, afirmou a MODAL, Afrânio Kieling, presidente da entidade. O dirigente apontou o custo logístico como um dos principais fatores da elevação dos preços nos transportes e considerou os investimentos em infraestrutura como fundamentais para o desenvolvimento da economia. Acompanhe, a seguir, os principais trechos de sua entrevista:
Em razão da crise do executivo, as estradas devem piorar sobremaneira no estado em 2016. Como a entidade pretende se posicionar em relação às concessões de rodovias no RS?
O Setcergs não é contra a cobrança de pedágios. É até a favor da privatização de rodovias. Nós somos contra os modelos adotados em governos passados. Infelizmente, agora, a mesma turma que lá no passado moldou um negócio muito interessante para as concessionárias – e bastante ruim para os usuários – está querendo voltar. Entendemos que precisa haver pedágios, mas também deve haver um marco regulatório, em que os recursos obtidos pela cobrança de tarifas não sejam usados apenas para a conservação das estradas, porque, naturalmente, há um crescimento do fluxo de veículos e a malha rodoviária fica deficiente. Essa arrecadação deve ser aplicada para grandes investimentos, como na duplicação dessas rodovias. Dessa forma, as concessões contribuiriam de forma efetiva para a diminuição dos riscos de acidentes de trânsito e de mortes, o que tem representado um alto custo para a sociedade gaúcha e brasileira.
Como as estradas mal conservadas afetam no custo logístico das empresas?
Nada adianta ter uma bela de uma indústria se não houver uma estrutura de distribuição efetiva dos produtos que são fabricados. Para isso, é preciso logística e caminhões. E, do ponto de vista dos caminhões, precisamos de estradas eficientes para diminuir os custos dos nossos insumos, como pneus, combustíveis, entre outros. Se tivermos uma boa estrada, duplicada, certamente haverá a redução dos custos dos produtos que nós mesmos vamos comprar. O custo logístico no Brasil ainda é muito caro e, para reduzi-lo são indispensáveis os investimentos em infraestrutura. Mesmo que sejam por meio da iniciativa privada, mas com o rigor de um marco regulatório, para que o dinheiro do pedágio seja efetivamente utilizado na construção, conservação e melhoria das estradas gaúchas e brasileiras.
Quais os efeitos da crise da economia sobre o setor?
O baixo desempenho da economia brasileira, a alta da inflação, a elevação da carga tributária e da taxa de juros reduziram o volume de negócios do setor. Existe um número significativo de dispensa de funcionários nas empresas de transporte e logística. Se não tem venda, não tem transporte, e, infelizmente, as empresas não conseguem manter seus quadros de funcionários. Nessa linha, temos duas alternativas: sucumbir ou demitir. Ou seja, chegamos a uma encruzilhada. Não temos mais alternativas para suportar. Espero que, primeiramente, o governo tenha credibilidade para reverter esse quadro negativo. Com credibilidade, as pessoas começam a consumir, as empresas passam a investir, a roda começa a girar novamente e tudo volta para o seu devido lugar. Nós precisamos ter, no Brasil, um crescimento autossustentado, e não como uma bolha como foi feito governos passados.
Qual foi a queda do nível de atividade do setor do RS 2015?
Segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os transportadores acumulam, em nível nacional, nos últimos 12 meses, uma redução da receita líquida de 6,15%. O Setcergs estima que essa queda seja maior no RS, em razão de operarmos com transporte internacional, que recuou devido ao aumento do dólar.
Como a inflação tem afetado as empresas?
Entre janeiro e agosto deste ano, o Brasil acumulou uma inflação de 7,06%, ou seja, em sete meses a inflação de 2015 superou em 0,65 ponto percentual toda a inflação acumulada em 2014. Contudo, o principal insumo da atividade de transporte, o óleo diesel, teve uma inflação ainda maior: 7,43%. E isso elevou de forma significativa o custo operacional do setor.
Qual foi a incidência de roubo de cargas em 2015? Qual o papel das novas tecnologias na prevenção desses roubos?
A Comissão de Combate ao Roubo de Cargas do Setcergs aponta que o RS tem uma média estável de 360 ocorrências por ano. Em 2014 os prejuízos somaram um valor aproximado de R$ 115 milhões. As tecnologias têm um papel importante nessa questão, enquanto os bandidos não conseguem desmobilizá-las. Os custos com seguros, por exemplo, são decorrências do aumento considerável do roubo de cargas. O roubo encarece o seguro. Veja o exemplo da Europa, onde praticamente não existe roubo de cargas. Como consequência, lá o seguro é muito mais baixo. No Brasil, as companhias não têm como reduzir o custo do seguro, enquanto o risco de roubo de cargas não diminuir. Logo, quanto maior o risco, maior o custo.

 

 

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