O empresário Valmor Alves, presidente da Electra Participações Ltda., de Curitiba (PR), e ex-presidente do Conselho de Administração da Abrapch, afirmou que a pandemia do Covid-19 deverá provocar fortes ajustes na economia que devem imprimir um novo normal também na demanda média de energia de forma geral. “Acredito que o consumo se estabilizará num patamar próximo a 20% menor que imediatamente anterior ao Covid-19”, disse Alves nesta entrevista a MODAL.
Acompanhe:
Qual a sinalização que o mercado está emitindo em termos de demanda de energia?
Minha percepção do momento, considerando que estamos na maior pandemia desta geração, o Covid 19, é de que o mercado consumidor está passando por um forte ajuste. Ocorre que as indústrias de bens duráveis, já começaram a sentir de forma mais significativa a redução do consumo. Em especial no Brasil, toda a cadeia do setor automobilístico. Tendo atingido, inclusive, boa parcela da indústria siderúrgica, fortemente eletrointensiva. Portanto, seguramente haverá um novo normal também na demanda média de energia de forma geral, e, em especial, de eletricidade. Isto no mundo todo, e não será diferente no Brasil. A retomada da atividade econômica ocorrerá, por mais que haja boas iniciativas dos governos, de forma gradual. Acredito que o consumo se estabilizará num patamar próximo a 20% menor que imediatamente anterior ao Covid19.
Acredita em retomada gradual do consumo?
Francamente não acredito numa forte retomada da economia. Minha análise vem do fato de que os grandes consumidores de energia, principalmente as indústrias que possuem processo produtivo eletrointensivo, são os mais impactados pela redução do consumo geral, com a exceção dos bens de primeira necessidade. Portanto, viveremos por mais três a quatro anos sem investimentos significativos em novas usinas, ou reforço na infraestrutura de distribuição.
Existe segmento que apresenta maior demanda?
No momento, o setor agroindustrial é um dos poucos que apresentam um pequeno crescimento. Provavelmente por serem muito favorecidos pelo momento de dólar bastante apreciado, que deixa nossos produtos muito competitivos em nível de preços internacionais.
Como vê os setores de geração, distribuição e transmissão? Quais os cenários?Sempre há impacto, e isto será sentido cada vez mais à medida que a duração desta pandemia se ampliar. Não existe nenhum setor da economia que seja uma ilha. A crise acaba irradiando para todos os lados. Infelizmente, todos os prestadores de serviços e investidores, seja na geração, transmissão ou distribuição de energia serão impactados. Não havendo crescimento econômico, não há necessidade de mais infraestrutura para atender as demandas atuais. Sem novas demandas, não existem leilões e PPAs, que são a sustentação, ou mitigação de parte dos riscos dos investimentos.
Em termos de cadastros de projetos qual a fonte de energia que mais se destaca?Acho que existem oportunidades, sim. Mas muito focada para a geração distribuída. Fora desse segmento, o momento certamente não é dos melhores.
A OMS disse que o pico do Covid no Brasil vai ocorrer em agosto. Quais as suas projeções em cima desse quadro relativas ao consumo de energia ?
Acredito que como setor produtivo brasileiro é fortemente diversificado, além de uma indústria de alimentos importante para o mundo, nossa agricultura é cada vez mais tecnológica e competitiva. Portanto no meu ponto de vista não mudará muita coisa do patamar que estamos agora. Apesar do momento difícil que todos estamos vivendo, o fato é que se trata de um setor privilegiado, com problemas de curto prazo sim, mas é um produto de primeira necessidade e base para qualquer indústria e sociedade que queira se desenvolver.