A greve dos caminhoneiros que expôs a alta dependência do modal rodoviário, no país, tornou crucial a reformulação da atual matriz de transportes, cujo tema deve fazer parte da agenda de todos os candidatos à sucessão do presidente Michel Temer. É preciso que o presidente eleito resista aos lobbys e às corporações a fim de executar uma agenda que garanta segurança jurídica aos investidores, que contemple o planejamento e uma nova lei para fortalecer as agências reguladoras federais, afirmou o economista Cláudio Frischtak, da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios.
Em entrevista à Modal, Frischtak estimou em pelo menos 10 anos o período necessário para o Brasil reequilibrar a matriz de transportes. Como exemplo citou o modal ferroviário cujo cronograma de execução absorve pelo menos dois anos para o desenvolvimento do projeto, e entre quatro e cinco anos para a execução. “Temos exemplos hoje no Brasil da morosidade de projetos de importância como das ferrovias Transnordestina cujas obras estão atrasadas há mais de 10 anos e da Leste-Oeste”, lembrou o economista. E completou: “A remodelação da matriz de transportes impõe um grande trabalho que, além das ferrovias, deve contemplar as hidrovias, a cabotagem e também as dutovias.”
A uma pergunta sobre a matriz ideal de transportes, Frischtak defendeu um aumento de 10% na participação do modal ferroviário, 5% no modal hidroviário e cabotagem, 5% nas dutovias e uma redução de 15% no modal rodoviário. Segundo dados da agência Eurostat U.S. Bureau of Transportation Statistics, atualmente o modal rodoviário tem uma participação de 65,6% no país, seguido do ferroviário (19,5%), cabotagem (9,6%), hidroviário (1,8%), dutoviário (3,4%) e aéreo (0,05%).
Short lines
Hoje o país, segundo Frischtak, investe em torno de 0,6% do PIB em infraestrutura, quando seria necessário pelo menos 2,5% de um PIB estimado em R$ 6,6 trilhões. “Correspondendo a investimentos de R$ 130 bilhões, anualmente, para reequilibrar a matriz de transportes e reduzir o custo logístico do Brasil”, pontuou o economista. “Uma das alternativas para aumentar a presença das ferrovias na matriz modal do país seria a implantação das chamadas Short Lines ,da experiência norte-americana, que operam em ramais secundários e não precisam de regulação.”
Nos Estados Unidos existem mais de 550 dessas Short Lines que ocupam cerca de 50 mil milhas de malha.