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“É preciso investigar cada caso de assoreamento”, diz o professor Walter Collischonn

Professor Walter Collischonn

O professor Walter Collischonn da UFRGS  responde com uma pergunta ao ser indagado sobre a questão do assoreamento de arroios , canais de drenagem e sistemas pluviais, tema  que passou a fazer parte do Programa de Desassoreamento do Rio Grande do Sul (Desassorear RS)  do Plano Rio Grande, lançado após as inundações.

“Qual a frequência dessa palavra na imprensa?  O fato de  ser muito rara  mostra, segundo ele, que o assoreamento não é um problema constante, pois o rio tende a transportar para jusante o material que chega de montante.

No entanto, apesar de não acontecer de forma generalizada e constante nos rios do RS, existem alguns casos em que ele realmente ocorre, como, por exemplo, em trechos de rios que foram profundamente modificados, como no Arroio Dilúvio, em Porto Alegre, acrescenta Collischonn.

Segundo ele, o assoreamento no Arroio Dilúvio se explica pelo constante aporte de material sólido relativamente grosseiro, como areia das áreas de expansão urbana e pela canalização com uma largura muito maior do que a largura natural do arroio original. “Aí, sim, ocorre a necessidade do trabalho contínuo de desassoreamento”, assinala.

No caso dos rios maiores do RS, como o Jacuí e o Taquari, conforme ele, não existe esse tipo de alteração de forma generalizada.  Mas mesmo nesses rios pode ocorrer o assoreamento em alguns pontos localizados, especialmente na proximidade das barragens construídas ao longo das últimas décadas.

Outro tipo de assoreamento que pode acontecer com alguma frequência, repara o professor, é o assoreamento de trechos do canal de navegação ao longo dos rios, mas esse assoreamento localizado não necessariamente significa que o rio está assoreado. O assoreamento do canal de navegação não implica no assoreamento do rio. “O canal de navegação pode estar assoreado, mas o rio pode manter sua capacidade de condução de água durante as cheias, porque o canal de navegação, em muitos casos, representa apenas uma pequena parte da seção transversal do rio.”

O RS vai ficar inundado novamente

Com relação a uma possível inundação ocorrer novamente, o professor afirma com segurança que, caso a chuva que aconteceu em abril e maio de 2024 se repita, o RS vai ficar inundado novamente. Isso porque a chuva daquele período foi a maior  já observada no Brasil em grande escala espacial e temporal. “Foi uma chuva absolutamente sem precedentes”

Houve assoreamento? Onde houve assoreamento? Qual foi a magnitude do assoreamento?

Essas perguntas são fundamentais, porque o assoreamento tem sido muito citado, mas sem muitos dados concretos, exceto em alguns trechos dos canais de navegação e em um trecho de banco de areia a jusante das ilhas do Guaíba, esclarece o professor.
Uma cheia extraordinária, como a de 2024, tem alta capacidade de erosão. Então é muito provável que existam trechos relevantes dos rios em que ocorreu mais erosão do que assoreamento, argumenta.  “Antes de qualquer ação de desassoreamento, é fundamental saber o que realmente aconteceu. Para isso, é necessário comparar um levantamento batimétrico – altitude do fundo do rio em todos os pontos, realizado antes da cheia – com um levantamento batimétrico atual – depois da cheia”, agrega o professor titular de Hidrologia nos cursos de Engenharia Ambiental e Engenharia Hídrica da UFRGS.

Outras perguntas necessárias, segundo professor: O assoreamento que ocorreu tem influência significativa sobre o nível da água durante as cheias? Caso os sedimentos depositados sejam retirados por dragagem, o nível da água durante as cheias nos locais fortemente impactados irá diminuir significativamente?

Essas indagações,  conforme  Collischonn , podem ser respondidas  utilizando ferramentas da engenharia chamados modelos hidrodinâmicos. Esses modelos podem ser usados para analisar cenários da batimetria atual e da batimetria anterior à ocorrência da cheia. Os níveis da água calculados em diferentes pontos ao longo dos rios podem ser comparados. No caso de alguma cidade que sofreu com as cheias o nível da água máximo no cenário da batimetria atual seja muito superior ao nível da água máximo no cenário da batimetria de antes da cheia, ficará provado que o assoreamento tem influência significativa sobre as cheias. Nesse caso, uma nova simulação poderá ser realizada, modificando a batimetria no modelo, de acordo com a dragagem proposta. Os resultados dessa nova simulação devem ser analisados para checar se o problema será resolvido pela dragagem, explica o professor.

Ele continua:  “Em alguns casos, a retirada de sedimentos pode não ter impacto sobre os níveis máximos dos rios durante uma cheia. O banco de areia que se formou no rio Guaíba após a cheia é, provavelmente, um desses casos, pois o lugar em que o banco se formou é um local em que a água teve velocidade relativamente baixa durante a cheia. Assim como retirar um caminhão parado em um posto de gasolina, a 100 metros da estrada, não tem nenhum impacto positivo em reduzir o engarrafamento na estrada, retirar os sedimentos de um banco de areia numa parte do rio em que a velocidade da água é baixa pode não ter impacto nenhum sobre o nível da água máximo durante a cheia”.

 

Os benefícios justificam os custos?

 

Collischonn repara que reduzir a inundação em uma área A, localizada a montante, pode resultar em um aumento da inundação em uma área B, situada mais a jusante. Assim, uma dragagem que aprofundasse muito o rio Taquari entre Muçum e Roca Sales teria como consequência uma intensificação da inundação em Arroio do Meio. O desassoreamento ou dragagem não deve ser realizado se resultar na piora da situação em algum dos pontos impactados.

 

 

E conclui: “A dragagem tem custos que não são desprezíveis. Em alguns casos, os custos da dragagem, e da constante repetição da dragagem, podem exceder os benefícios. Enfim, tudo se inicia pela realização de um levantamento batimétrico qualificado, e pela comparação desse levantamento com os anteriores, de modo a permitir uma análise da evolução do leito ao longo do tempo. Sem essa etapa inicial, a discussão seguinte é prematura”.

 

 

 

 

 

 

 

 

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