Resgate do navio Pallas marca início de nova gestão no porto de Itajaí

Após mais de um século submerso, os restos do navio Pallas que naufragou após colidir com um banco de areia durante uma manobra de entrada na foz do rio Itajaí-Açu finalmente serão resgatados.

Com esse objetivo uma força-tarefa inédita começa a se mobilizar em Santa Catarina, no momento em que o porto de Itajaí pretende retomar fortemente suas atividades depois de ficar paralisado no governo anterior devido a uma tentativa frustrada de privatização.

A decisão de resgatar o navio  Pallas surge em um momento oportuno para o porto de Itajaí, dado que com a sua  federalização iremos focar na competitividade diante do crescente comércio marítimo internacional, afirmou à MODAL o superintendente do Porto de Itajaí, João Tavares Bastos.

Bastos explica que  com a chegada de navios maiores e o acúmulo de gargalos logísticos, o porto é obrigado a adotar medidas estruturais. Nessa linha, o governo federal sinalizou cerca de R$ 300 mil para estudos e  projeto executivo e R$ 23 milhões, através da Autoridade Portuária de Santos, para a remoção do navio.

“O Complexo Portuário de Itajaí faz parte da história político-econômica de Itajaí e Navegantes e o  navio Pallas, como um dos primeiros grandes mercantes a operar em nossa costa, representa um marco. Seu naufrágio em 1890 se tornou parte da nossa memória marítima e do desenvolvimento portuário por mais de um século”, explicou o superintendente.

 

Paulo Tavares Bastos

Benefícios

Segundo ele, os benefícios esperados com a remoção do Pallas vão além da possibilidade de receber navios de até 366 metros. “A remoção do casco submerso, próximo ao molhe norte em Navegantes, é fundamental para expandir a capacidade operacional do porto. Planejamos o alargamento do canal e a ampliação da bacia de evolução. Apenas a retirada do casco já permitirá a entrada de embarcações maiores, aumentando nossa competitividade e a segurança das manobras. Com mais navios atracando, geramos mais receita, competitividade e empregos”, detalhou.

Desde que permanece submerso, o Pallas  impactou significativamente as operações portuárias, relatou Bastos. “O casco ocupou uma área importante do leito do rio, limitando o calado e o raio de giro das embarcações. Isso gerou restrições operacionais, tornando Itajaí menos atrativo em comparação com outros portos que acompanharam as demandas logísticas globais”.

“O aumento da capacidade operacional do porto atrairá novas rotas comerciais, gerando empregos diretos e indiretos e maior arrecadação tributária para a região. Isso significa um crescimento econômico significativo para Itajaí”, projetou Tavares Bastos.

Um estudo técnico detalhado será crucial para o sucesso da operação, diz Bastos. Com duração entre 25 a 30 dias, esse trabalho  deverá incluir análise estrutural do casco, impacto ambiental, sedimentação, técnicas de remoção subaquática e métodos de preservação de possíveis artefatos, explicou Tavares Bastos.

Dado ao longo tempo submerso, o estado de conservação do Pallas é uma preocupação, relatou Bastos. “Esperamos uma estrutura comprometida, com partes corroídas. Isso exigirá cautela no manuseio e técnicas especializadas para não desintegrar os destroços durante a remoção”, alertou o superintendente.

Ele também citou precedentes importantes: “Existem exemplos de resgate de embarcações centenárias, como o Vasa na Suécia, que ficou submerso por 333 anos. Esses casos mostram a complexidade do processo e a importância de estudos prévios minuciosos.”

Impactos ambientais

A preocupação com os impactos ambientais é constante. “O principal risco envolve a suspensão de sedimentos contaminados. Serão necessárias medidas como contenção com mantas, dragagem seletiva e monitoramento ambiental contínuo. Estudos minuciosos e equipamentos especializados serão utilizados para minimizar esses impactos”, assegurou.

A localização na foz de um rio apresenta desafios específicos. “Correntes fortes, variações de maré, presença de areia e alta salinidade dificultam a operação. Equipamentos especializados e técnicas subaquáticas avançadas serão essenciais”, explicou.

Após a remoção, o destino dos destroços do Pallas será cuidadosamente planejado. “Parte poderá ser preservada como patrimônio histórico em exposições ou museus. Outra parte, sem valor arqueológico, poderá ser reciclada ou descartada de forma ambientalmente adequada”, detalhou Tavares Bastos.

Ficha do Pallas

Tipo de Navio: Navio de cargas diversas (geralmente frigorificadas) e, posteriormente identificado como um paquete (navio multifuncional para passageiros, cargas e correios) movido a vapor.

Data do Naufrágio: 25 de outubro de 1893 (há cerca de 125 anos na época do relato).

Local do Naufrágio: Canal da Barra do Porto de Itajaí, próximo à praia de Navegantes.

Operações no Porto de Itajaí: Embarque de carvão.

Possível Utilização na Revolta Armada: Historiadores indicam que o navio pode ter sido utilizado durante a Revolta Armada (movimento de rebelião da Marinha do Brasil contra governos da República Brasileira), mas sua participação foi discreta, limitando-se a serviços de navegação de cargas, sem evidências de adaptações para combate.

Rota Marítima: Rio de Janeiro – Buenos Aires (Argentina), com escala no Porto de Itajaí.

Causa do Naufrágio: Naufragou ao se deslocar rumo ao Porto de Itajaí, na praia de Navegantes, em um período em que ainda não havia o molhe norte que dá acesso ao complexo portuário.

Vítimas: Não houve vítimas no naufrágio; todos os tripulantes foram conduzidos para solo terrestre.

Redescoberta: O casco soçobrado do navio foi possivelmente tocado durante serviços de dragagem no canal de acesso ao Porto de Itajaí.

Estado Atual do Casco: Dividido em duas partes, afastadas cerca de 40 metros uma da outra, na parte interna da Foz do Rio Itajaí Açu, no molhe norte. A área possui baixíssima visibilidade, fundo lamoso, água contaminada, correntes e intenso fluxo de embarcações.

Dimensões: Inicialmente estimado em 110 metros de comprimento, estudos posteriores revelaram que o comprimento original era de 67 metros.

Fabricante: A. Leslie and Company/R. and W. Hawthorn .

Confirmação da Identidade: Uma Carta Náutica do Canal da Barra e Porto de Itajaí de 1923, certificada pela Inspetoria Federal de Portos, Rios e Canais, consta a sinalização do Pallas.

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